Projecto é uma palavra que adquiriu uma dignidade recente, com menos de 15 anos. Quando eu era pequenino, tinha menos de 1m90 e de 90 kg, a palavra projecto não augurava nada de bom. Se uma pessoa dizia que tinha um projecto, ou pior, se dizia que tinha muitos projectos, a gente já sabia do que se tratava. O gajo nunca tinha feito nada de jeito na vida. Era um daqueles gajos sempre com ideias que não o levavam a lado nenhum. Na pior das hipóteses era um mentiroso compulsivo ou um mero aldrabão. Para mim, um projecto continua a ser isso.
A palavra projecto foi recuperada, como os gajos das Taipas, à custa de muito esforço.
E como é que a palavra recuperou a dignidade? Antes de mais, a UE encharcou o país de subsídios para projectos. Os subsídios podiam ter vindo para qualquer outra coisa, com qualquer outro nome, ou para a mesma, com outro nome. Mas não. Os subsídios que emborcámos vieram para “projectos”. Ora, o subsídio é amigo do povo. E amigo do nosso amigo é nosso amigo também.
O ensino, sempre ao serviço de ideologias, deu uma ajuda: tudo nas escolas e universidades são projectos. Viva o subsídio, né? Surgiram gestores de projectos aos pontapés. Nas escolas, nas universidades, nas autarquias, nas empresas, nas associações de qualquer porcaria. A gestão de projectos tornou-se matéria lectiva obrigatória até no secundário, mesmo sem os professores saberem minimamente do que é que estavam a falar. Não era fácil saberem. O nome gestão de projectos abriga matérias diferentes, com pouca ligação entre si, de tal forma que é usual que diversos livros de gestão de projectos não tenham nada em comum.
Na verdade, com o nome gestão de projectos podem encontrar-se livros que abordam metodologia PERT, ou alternativamente, livros que abordam análise de investimentos, ou ainda, alternativamente, livros cujo conteúdo é o típico de comportamento organizacional. O que é que estas 3 matérias têm a ver umas com as outras? Nada. Tipicamente, o autor do livro impinge aos leitores um destes 3 temas e está feito. Curiosamente, nesses livros ficam por ensinar os meandros da aprovação burocrática de projectos na UE e a sua forma de seguimento, que é aquilo que o povo mais quer saber.
A palavra projecto está pois legitimada pelo seu interesse prático de servir para receber subsídios e pela importância que lhe é conferida no meio académico. Subsidiar por projectos significa subsidiar antes de a obra, uma palavra que caíu em desuso, estar feita e, por maioria de razão, muito antes de poder ser objecto de avaliação. Sabe deus o que isso significa…
Deixe um comentário