Borges

Admirável Borges.
Admirado Borges!
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“Três dimensões tem a vida, segundo Korzybski”… Creio que é permissível aqui uma observação fundamental; a do suspeito de uma teoria que assenta, não num pensamento, mas numa mera comodidade classificável, como o são as três dimensões convencionais. Escrevo CONVENCIONAIS porque – separadamente – nenhuma das dimensões existe: dão-se sempre volumes, nunca superfícies, linhas nem pontos… Perante a incalculável e enigmática realidade, não creio que a simples simetria… baste para a esclarecer e seja outra coisa para além de uma vazia lisonja aritmética.
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O espaço é um acidente no tempo e não uma forma universal de intuição, como impôs Kant. Há regiões inteiras do Ser que não o requerem: as do olfacto e da audição.
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Há um conceito que é o corruptor e o desatinador dos outros. Nâo falo do Mal, cujo limitado império é a ética; falo do infinito.
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… do marquês de Laplace (que declarou a possibilidade de cifrar numa única fórmula todos os factos que serão, que são e que foram) e do inversamente paradoxal doutor Rojas (cuja história da literatura argentina é mais extensa que a literatura argentina)…
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Compilei uma vez uma antologia da literatura fantástica. Admito que essa obra é das pouquíssimas que um segundo Noé deveria salvar de um segundo dilúvio, mas delato a culposa omissão dos insuspeitos e maiores mestres do género: Parménides, Platão, João Escoto Erígeno, Alberto Magno, Espinosa, Leibniz, Kant, Francis Bradley. Com efeito, o que são os prodígios de Welles ou de Edgar Allan Poe – uma flor que nos chega do futuro, um morto submetido a hipnose – comparados com a invenção de Deus, com a teoria laboriosa de um ser que de certo modo é três e que solitariamente perdura fora do tempo? … Tenho venerado a gradual invenção de Deus; e também o Inferno e o Céu (uma remuneração imortal, um castigo imortal), admiráveis e curiosos desígnios da imaginação dos homens.
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Hollywood, pela terceira vez, difamou Robert Louis Stevenson. Esta difamação intitula-se “O Médico e o Monstro”, perpetrou-a Victor Fleming, que repete com aziaga fidelidade os erros estéticos e morais da versão (da perversão) de Mamoulian.
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