O vereador das infraestruturas da nossa aldeia disse que “fazer um aeroporto na quinta do Manel Esquerdista seria um projecto megalómano e faraónico, porque, além das questões ambientais, não há gente, não há hospitais, não há escolas, não há hotéis, não há comércio, pelo que seria preciso levar para lá milhões de pessoas”.
Depois de matutar de falar encontrei a Dona Adozinda do cabeleireiro e ela disse-me para que são necessários milhões de pessoas, escolas, hoteis, hospitais e quejandos num aeroporto. Disse-m’ela que tinha uma cliente que era vizinha duma senhora cujo marido conhece um primo dum colega do primo do tio do parceiro de sueca do condutor do sub-secretário daquele vereador, e que esta lhe disse que existia um contrato para treino de aterragem em edifícios patrocinados por um senhor anónimo de uma família rica do estrangeiro. “Sabe que o aeroporto vai ser, em parte, pago pelos privados”, disse. “Pois, pois” pensei, “Só falta saber a troco de quê…”
Disse ela que, como os milhões que existem cá na aldeia são insuficientes, será necessária a importação de pessoas estrangeiras que serão colocadas no aeroporto, nos tais hospitais, etc. E que a melhor maneira de as importar é dizer-lhes que não vão para nenhum deserto mas sim para um lugar fresquinho. Daí a justificação dos terrenos na Quinta da Dona Rosa Laranja, mas que, e apesar de ser densamente povoada (25,8 hab./km² , 1,128 habitantes no total), ainda serão necessários alguns milhões de habitantes para poder abrir o aeroporto. Daí a importação (ela diz que acha que vamos importar amarikanos, mas eu não acredito).
Óbviamente que o terrenos cedidos pelo Manel são num lugar inóspito e, sobretudo, desabitado (29,3 hab./km², 4,304 habitantes no total). Ainda bem que o vereador tomou a decisão melhor. Afinal sempre se preserva a vinha. É que se a arrancamos arriscamos a vida dum milhão de aldeões.
“Ahh!”, disse eu, “afinal não são essas desprezáveis questiúnculas ambientais que guiam isto! É o pogresso do país!”
“Ó D. Adozinda”, interrompeu a Liliana que é modelo e tudo, “será que é isso? Se calhar o vereador quer lá os milhões de pessoas porque os pilotos que voam para a nossa aldeia estão habituados a ver muitos prédios à volta e depois são capazes de estranhar!” Realmente é uma coisa a ver…
Deixe um comentário