O Pernadas

Era eu gaiato de 3 anos, houve um sururu no prédio, sem esquerdos nem direitos, só um fogo por piso, que era ali para os lados de Sta. Apolónia, com jardim e garagens.
Os vizinhos do terceiro tinham um filho da minha idade, de quem eu não gostava, e com quem andava sempre à bulha.
O pai era um figurão importante nem sei onde. O que interessa para esta história é que tinha direito a carro com motorista, motorista esse que se chamava Pernadas.
Ao que eu entendi, pelos comentários àcerca dela, a do terceiro, que sibilaram entre as outras, nessa manhã voltou o Pernadas de conduzir o figurão, colocou o carro frente à garagem, e vá de lhe dar banho.
Assoma a do terceiro à janela e pergunta cá para baixo: “Oh Pernadas, onde é que você dá banho ao seu piriquito?”.
Responde ele, sic, que eu ouvi com estes que a terra há de comer: “Na banheira, minha senhora, na banheira”.
Do alto do sentido prático os meus três anos, pensei: “Vai ter de fechar a porta, senão voa e foge. Mesmo assim…”
Quando voltei ao prédio, elas não falavam de outra coisa.
“Tanta conversa por causa do piriquito do Pernadas”, estranhei eu.
Ao jantar, com o meu pai que chegara, nem um comentário.
Foi mesmo assim. Imensa conversa durante o dia, e à noite, parecia que não tinha acontecido nada.
Entenda-se lá as mulheres.


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