Outsourcing


Ou “As vantagens duma vida simples”

 Aqui à uns anos cada vez que queria telefonar a alguém puxava pela cabeça e utilizava o número armazenado na minha memória, sendo raras as vezes que necessitava de voltar a pedir esse contacto a alguém.

Gabavam-me a capacidade de armazenamento de números e achavam estranho que não tivesse uma agenda, mas antes um monte de papeis e papelinhos onde assentava os números e que depois que raramente utilizava. Era um tipo autónomo.

Certo dia fiz contrato com um tipo chamado telemóvel. O tipo apresentou-se e convenceu-me a assinar o dito cujo com a frase: “Oh pá! Podes por aqui os numeros de telefone que usas menos. Aqueles que nunca sabes onde estão! Em vez de teres por aí montes de papel”. E assim fiz. Continuava a saber os números, mas aqueles menos usados, enfim, lá foram colocados no telefone. E a coisa ajudava.

 No tempo actual verifico a minha total dependencia desse mafarrico. Enganou-me bem! Já não sei número nenhum e, de cada vez que me dão um contacto nem me dou ao trabalho de os tentar memorizar. O mafarrico, entretanto, sofreu mutações e hoje até faz fotografias e filmes e tudo. A perda deste allinuane roça a tragédia.

E tudo começou por parecer uma vantagem…

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Um comentário a “Outsourcing”

  1. É o problema com as tecnologias e os aprendizes de feiticeiro, que somos nós.
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    Eu lembro-me que à muito, muito tempo, foi inventada a primeira tecnologia, o fogo. Agora temos o aquecimento global.
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    Mais recentemente os druidas abominavam o costume romano de escrever, pois degradava o uso da memória. Resquicios desssa atitute ainda perspaçam pelo sistema legal inglês, onde a constituição “de facto”, é consuetudinária, não-escrita.

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