O engenheiro não resiste às tecnologias. É uma vocação infantil. Do que ele mais gosta é de chips. Como as gajas gostam de telemóveis, assim o nosso engenheiro gosta de chips. Por vontade dele haveria chips em toda a parte. Assim se evitariam todos os roubos, malfeitorias e incertezas da vida. Passaria a haver chips nos carros, chips nas crianças, chips até na cona da mãe.
Montagem obrigatória, pois claro. Obrigatória para quem tem um Fiat Punto. Mesmo que nunca tenham carjackado um único Punto. Já agora, convém dizer a verdade. Os chips não vão resolver o problema do carjacking. Primeiro, se alguém em Taiwan arranjar maneira de dar volta ao chip só a substituição de todos os chips pode repor a protecção (?) dos carros. Segundo, e mais óbvio, os carros roubados não precisam de circular por aí inteiros. Saem em peças. Aliás, toda a gente sabe disso. Já hoje.
Em 2007 roubaram-se 20 000 carros em Portugal. Um era meu. Desses, menos de 500 foram por carjacking. A 10 000 contos por carro carjackado, o somatório do valor dos carros assaltados por carjacking dá cerca de 5 milhões de contos. Aquilo que se vai gastar já o governo o disse: um cluster tecnológico de 30 milhões de contos. Seis vezes mais.
O historial dos meios electrónicos obrigatórios em Portugal é triste. São os barcos de pesca obrigados a ter um rádio para o qual as autoridades não têm receptor. São os camiões obrigados a ter um tacógrafo que pode ser digital quando as autoridades não têm leitores de tacógrafos digitais. E é o célebre cartão 20 em 1 que serve de BI, de cartão de saúde, de cartão de segurança social, de cartão de contribuinte, de cartão de eleitor, de cartão de tudo, e que anda por aí mas não serve de nada porque não há leitores para ele.
Entretanto bateu-me uma iluminação. Será que o nosso engenheiro quer mesmo dizer chips? Não será que quer dizer sheeps? Deve ser isso. O que o eng. quer é um sheep dentro de cada carro, de cada posto de trabalho, de cada casa, etc. Isso sim. Isso é que daria um país competitivo. De bezerros.
PS.: O que é tecnojacking? É o ataque ao bolso do cidadão com o argumento de uma necessidade tecnológica. Fui à procura no google por tecnojacking. Não existe. Acabámos de criar o termo. A coisa mais próxima que o google encontrou foi technoviking. É uma coisa de mau gosto. De muito mau gosto.
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