também temos

Agora todos têm soluções para a crise financeira do país. Cada um tem a sua. Nós também temos. A nossa, como não podia deixar de ser, é muito melhor.

Toda a gente já sabe que o problema se resolve com uma redução de 20% nos rendimentos dos portugueses. Pelo IRS, pelo IVA, ou por outra coisa qualquer. Ou com cortes equivalentes na despesa do estado. Medina dixit. O resto são trade-offs entre estes dois elementos. O resto são formas de dourar a pílula. O resto são formas de minimizar a contestação social decorrente da perda de poder de compra. É verdade. Mas nós temos uma solução mágica. Nós sabemos a melhor forma de reduzir em 20% o rendimento dos portugueses.

Há que reduzir em 20% os rendimentos dos portugueses. É disso que precisamos. É para isso que aqui estamos. É isso que queremos. É possível fazê-lo. Haja tomates para o fazer. Somos homens de fé. Temos várias maneiras de o fazer. Primeira, no próximo ano reduzir todos os salários em 20%. Parece uma boa ideia. Afinal de contas são precisos sacrifícios, né?

Só que nós somos o chornal e temos opções melhores do que essa. Aqui vai uma. Pegar no 1% de pessoas com maiores rendimentos e reduzi-los em 80% durante um ano. Ou pagá-los em obrigações do tesouro. Estamos certos de que essas pessoas continuarão a viver razoavelmente. E que, se alguma coisa correr menos bem, têm poupanças e uma boa rede familiar.

Isto de sermos o país da europa com mais desigualdade tem pelo menos uma vantagem. Temos margem para reduzir temporariamente os rendimentos sem empurrar pessoas para situações extremas. A título de exemplo, sabemos que 6 pessoas detêm 20% do volume de reformas do BCP. Dos milhares de reformas do BCP. Basta tirar as reformas daqueles 6 para resolver o problema. E o BCP não é certamente caso único. É o modelo de sociedade que temos, que criámos.

Sabemos que 1% da população são cerca de 100 mil pessoas. E até que o 1% mais rico da população tem dificuldade em explicar como enriqueceu. Sabemos que os partidos políticos que nos governam têm mais do que 100 mil pessoas. Sabemos que muitos autarcas vivem bem. Sabemos que muitos altos quadros do estado vivem bem. Sabemos que muitos quadros de empresas públicas, de monopólios e oligopólios vivem bem. Não lhes custa viver durante um ano com 20% do rendimento. Somos gente séria, pagamos-lhes o resto em títulos do tesouro.

P.S.: Sabemos que os ex-ministros das finanças que foram visitar o cavaco vivem bem. Não há um só que ficasse mal governado apenas com 20% do salário. Foram lá todos e nenhum se lembrou disto. Os economistas que nos meteram nisto continuam a ser ouvidos como autoridades no assunto. A nós, que trazemos soluções concretas para os problemas do país, tratam-nos como cães vadios.