Ribeiras Secas da Serra

Ontem lá fui dar mais uma volta pelas Ribeiras Secas da Serra.

Comecei por volta das 2h da tarde, depois do almoço, com um calor abrasador. Não havia água, o ar quente cortava, eu nunca ligo o ar condicionado do carro: se o tempo é quente, vivo com calor; se o tempo é frio, vivo com frio. A secura e o calor eram de tal forma que as folhas que caíam das árvores ardiam, durante a queda, com o atrito.

Nalguns sítios, o carro só subia com as redutoras, tal era a inclinação e a quantidade de cascalho solto. Não se podia parar, senão a poeira entrava pelas janelas.

Depois de deambularmos por uma quantidade de sítios que nunca mais vou conseguir encontrar(1), demos com uma poça no fundo de uma ribeira seca.

É preciso que saibam que naquele carro já ninguém atura as minhas saídas às Ribeiras Secas da Serra. Mas eu também não gosto de ir sozinho, por isso tenho que arranjar estratagemas para os levar comigo. A única que ainda tinha alguma frescura no olhar era a minha irmã, que foi ontem pela primeira vez connosco, e para quem tudo aquilo era uma novidade.

A água – cerca de 1,5m por 7m – estava lamacenta e não se percepcionava vida alguma. Assim que desliguei o motor – 2500 cc a 3000 rpm há mais de uma hora – vi um cágado a esconder-se por baixo de uma rocha, numa zona quase inacessível do charco. O brilho voltou aos olhos da pequenada.

Fui para dentro do charco à espera que o cágado viesse respirar cá acima. Lá dei com ele por entre duas rochas e cacei-o. Durante 20m, os putos deliciaram-se a brincar com o cágado, que nunca antes deve ter vivido momentos de tanto stress.

Voltámos para o carro e voltaram as lamúrias: quero ir para casa, quero-me divorciar, etc.

Meia-hora mais tarde, depois de mais uma travessia do deserto, demos com um oásis fantástico no meio daquele braseiro. Um não, dois: dois grandes lagos de água límpida que corria ligeiramente e habitados por peixinhos, o que dava uma garantia de pureza da água. Parámos o carro e, apesar de termos apenas hora e meia de digestão feita, fomos todos para dentro de água. Estivémos 2h na água: a nadar, a boiar, a ser comidos pelos peixes…

Duas horas depois tive que puxar os hipopótamos para dentro do carro – sim, aqueles que estavam a detestar a viagem – para podermos seguir para o próximo destino: mais poeira.

Tenho que arranjar uma trupe que goste de viagens, sem tempo, pelo meio das serras, sempre por trilhos desconhecidos, dias e dias a comer e a beber parcamente, até nos fartarmos…, até eu me fartar.

(1) Detesto a ideia de não me poder perder. É por isso que não uso telemóvel nem GPS. O GPS só tem um coisa porreira: poder registar o caminho que fizémos, para podermos voltar lá de novo; o resto é para meninas. E mesmo isso é para homens que não o são: quem é que quer voltar a um sítio qualquer, se há muitos mais, completamente novos, para descobrir?


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Comentários

4 comentários a “Ribeiras Secas da Serra”

  1. Avatar de carnide
    carnide

    E fotos?

  2. Avatar de alex

    Existem muitas, mas são em película e ainda vão passar uns dias até eu as revelar e colocar na net@.

  3. Avatar de tao
    tao

    Não percebi foi se a última frase do teu texto se refere a sítios ou a outra coisa qualquer, como gajas, por ex…

  4. Avatar de alex

    Pois…
    É um comentário interessante…
    É gajas, obviamente!

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