A banca portuguesa (II)

A banca portuguesa é como qualquer outra: Como não tem dinheiro infinito no sentido AlephZero, pode sempre ficar arruinada.
– – –
“Escolha um número”, disse-me o banqueiro Aleph0.
“Um número, que número?” perguntei eu?
“Um número qualquer, o que você quiser”
“Qualquer, mesmo qualquer?” disse eu ainda desconfiado…
“Sim, pode ser qualquer um”
“Mas pode ser tão grande como eu consiga imaginar?”
“Sim, o que você desejar, o que você quiser homem!”
“Sem limite, sem condicionamentos?”
“Sim, é isso que lhe estou a dizer!”
“Não consigo” rematei eu!
– – –
A conversa aqui ficou surreal. O banqueiro nunca tinha encontrado ninguém que o recusasse.
Mas eu não estava a recusá-lo. Estava perplexo e confuso!
A minha mulher disse-me: Não te ponhas com essas tuas coisas!
O banqueiro estupefacto vociferava: Não consegue?? Não consegue, como??!
E tive de lhes explicar a minha impotência:
Não consigo porque posso escolher sem nenhuma regra nem limite.
Se o limite fosse 1000, se escolhesse sem regra nenhuma poderia escolher qualquer numero entre 1 e 1000, possivelmente com igual probabilidade cada um deles.
Se o limite fosse 10^1000, o mesmo. Poderia sempre escolher um número entre eles.
Se o limite fosse um número tão grande como aquele que, usando todos os átomos e fotões que a tecnologia me permitire manipular até ao fim da minha vida para escrever esse número, esse número mesmo assim ainda me imporia limites, e seria ainda possível escolher um desde o mais pequeno até ele.
Mas um número sem limite, um Aleph0, não me permite escolher uma boa fatia dele, pois qualquer fatia que eu escolha é, e será sempre finita, ou seja, absolutamente miserável.
E mesmo que procurasse escrever um número, escrever o maior número possível com todos os meios e recursos que a tecnologia coloca ao meu dispor, e que os meus descendentes continuassem com essa tarefa durante gerações e gerações, mesmo assim esse número seria finito, e seria nada comparado com o AlephZero.
Por isso não consigo escolher o número. Porque só posso escolher o número se houver alguma restrição que o sr. Banqueiro coloque e que me impeça de escolher um que seja ainda maior. Se não me coloca essa restrição, não consigo escolher.
O banqueiro Aleph0 afastou-se incrédulo com o que lhe estava a acontecer.
Acabei por aceitar um magro empréstimo de 5000 euros da CGD e o divórcio que ela me pediu.
– – –
Hoje sou mais um teso, anónimo e desiludido.


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Comentários

2 comentários a “A banca portuguesa (II)”

  1. Avatar de alex

    Tu fazes-me lembrar aquele maluco do Júlio de Matos que só pensava em fazer fisgas para ir aos pássaros.

    Um dia o director do hospital pensou que ele já estava curado, porque já falava em arranjar uma namorada. Mas quando o director lhe perguntou o que é que ele ia fazer com a namorada, ele respondeu: “Namoro, caso-me e, depois, na lua de mel, tiro-lhe as cuecas… e arranco-lhe o elástico para fazer uma fisga para ir aos pássaros”.

    Todas as tuas conversas vão dar ao Aleph Zero. Já pensaste em namorar uma psicóloga para te resolver eese problema?

  2. Avatar de ValeAz

    Eu já pensei foi em namorar uma sueca!
    Mas saiu-me uma advogada…

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