O COP (Comité Olímpico Português) assinou um contrato com o governo. Dizia o contrato que o COP se comprometia a conseguir meia dúzia de medalhas e uns tantos pontos. Agora alguém avalia o COP. Se os resultados não forem considerados satisfatórios muda-se o presidente do COP. Assim se dá por castigado o malfeitor. Assim se dá lugar a um novo presidente do COP. Assim se dá lugar a uma nova esperança, que é disso que o povo acha que precisa.
Os procedimentos acima indicados para o caso do COP não resultam da aplicação de know-how intrínseco ao fenómeno desportivo. São uma solução para todos os males do mundo. Uma ideologia, portanto. Os seus ingredientes são os seguintes:
1 – um contrato/compromisso
2 – uma avaliação de resultados
3 – um estado que entra com a massa
4 – uma instituição externa ao estado, soberana portanto, neste caso o COP
Esta mesma receita é a que está presente nos novos modelos de avaliação das escolas e universidades, na nova gestão dos tribunais, nos já falhados hospitais S.A., na confiança em entidades autoreguladoras dos diversos sectores, nos conselhos de consertação social, nas novas ideias sobre o poder autárquico, na entrega das responsabilidades pela segurança nos bairros problemáticos aos seus representantes, etc. Na prática, o governo desresponsabiliza-se. A sua função deixa de ser garantir que as coisas correm bem. A sua tarefa é avaliar e mudar o dirigente, se for caso disso. Diga-se, em abono da verdade, que é uma tarefa muito mais simples do que garantir que as coisas correm bem. Mais simples, mas bastante menos útil.
É uma receita ideológica. É apresentada como o único futuro possível. Tão único que já nem vemos outro.
P.S.: A propósito, há até professores que no início do ano fazem um contrato com os alunos, crianças, e que os obrigam a assinar. É o contrato individual de sucesso educativo. É o reino da demência: Demenxia X. Viola-se, claro, como em muitos outros casos acima, um dos pressupostos básicos de um contrato: o de que ele se efectua entre entidades livres e iguais.
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