o que faz falta (II)

A notícia diz que os seguranças privados vão poder usar armas eléctricas, aerossóis e outros brinquedos similares. Após várias campanhas de sensibilização no sentido de evitar a disseminação da posse de armas o governo brinda-nos com esta ilustre medida. Motivado pela compulsividade securitária, o governo cede aos interesses da associação das empresas de segurança, corporizados na voz do seu presidente, o excelentíssimo anjo das correias, de triste memória.

A partir de agora, o ilustre leitor poderá ter o prazer de ser brindado com um choque até 200 000 volts se um porteiro de discoteca entender que o leitor teve um comportamento menos apropriado, tal como olhar para o cú de uma cliente. Alternativamente, poderá ser brindado com uma dose, generosa, de gás pimenta caso vá no meio da rua um bocado mais mal vestido, bastando para tal que passe à porta de um condomínio ou de qualquer prédio com segurança e o dito cujo entenda que você constitui uma ameaça.

Depois de jornais cheios com notícias de crimes violentos associados a seguranças da noite, o governo toma uma medida extraordinária: armá-los melhor. Ficamos felizes. Ficamos gratos.

A lógica da privatização aplicada à questão da segurança é isso mesmo. Não apostar nas polícias, que são públicas e, supostamente, têm a missão de prestar um serviço a todos os cidadãos. Isso não interessa. Os cidadãos que se fodam. O que é preciso é que os privilegiados possam viver nas suas ilhas, nos seus condomínios, nos locais que frequentam, rodeados de seguranças armados. Sempre, a tempo inteiro, como se não estivessem com isso presos nas prisões que os separam dos outros. Tal como em todos os outros países subdesenvolvidos que pretendemos imitar, tal como no Brasil e em Angola. Obrigado governo. Estamos no bom caminho.


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Comentários

Um comentário a “o que faz falta (II)”

  1. Avatar de toxinox
    toxinox

    O estado de direito está-se a dissolver na liquidez do sistema bancário internacional.
    Oxalá não se engasgue…

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