educar pelo futebol

O futebol mostra-nos o rapazinho génio da bola que tudo consegue no campo e fora do campo. Mostra que o sucesso é possível. Ensina a esperança. Sem esperança não é possível enganar o povo.

O futebol ensina a autoridade de todos sobre os jogadores, os únicos que produzem espectáculo. É a autoridade do treinador. É a autoridade do árbitro. É a autoridade do presidente do clube. E ensina a sujeição aos responsáveis federativos. E a destes ao poder político. E aos órgãos internacionais não eleitos pelos cidadãos. O futebol ensina também a legitimidade do castigo. E a sua arbitrariedade. E que o jogo é válido mesmo quando toda a gente vê que o árbitro é comprado. E que é legítimo proibir de recorrer aos tribunais, ou seja, que o argumento da celeridade justifica a criação de justiças privadas.

O futebol ensina que se podem comprar jogadores, ou seja, pessoas. E que isso é legítimo. E que se pode enriquecer com isso. E que os proveitos desse enriquecimento podem ir para outrem que não os jogadores. Para outrem que não os clubes. E ensina que é legítima a brutal desproporção entre o dinheiro de uma transferência e o dinheiro recebido efectivamente pelo jogador.

O futebol ensina, ao eliminar o modelo de clubes pré-existente, que a empresa é o modelo segundo o qual tudo deve ser gerido e vivido. Ensina que é legítima uma competição feita com base em poderes económicos que são desiguais. E que as grandes equipas são multinacionais. E que o nacionalismo vale pouco ou é ineficiente. O futebol ensina que se pode operar falido. E que é legítimo e desejável ter presidentes espertos que fazem belos negócios. O sr. Fiorentino é um rico que fez uma bela compra ao estado espanhol por uma peseta. O futebol ensina que se pode competir recorrendo a empréstimos dos bancos. Afinal de conas, o Real Madrid funciona com dinheiro emprestadado pelos bancos espanhóis.

P.S.: Há uns anos, quando o Figo foi transferido, aplaudiu-se o grandioso poder económico do Real Madrid. Agora, perante a transferência do CR, os dirigentes do Barcelona protestam contra o “imperialismo” do Real. O Platini vem apelar à regulação dos mercados. O futebol acompanha o espírito dos tempos.


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