25 de abril

Ano após ano, a história do 25 de Abril vai sendo ligeiramente mudada, coisa que as novas gerações não sabem e de que as velhas não querem saber. Como todas as histórias, o 25 de abril deve ter um herói com um nome. O herói já foi o spínola, o otelo e o salgueiro maia e este ano está em promoção o jaime neves, o que pode prenunciar um período no qual o verdadeiro herói do 25 de abril é o marcelo, senão o próprio salazar. Face a isso, o chornal não é menos que ninguém e publica aqui diversas versões dos factos passados no 25 de abril.

A versão oficial diz que os militares tiveram de repente uma paixão pela liberdade e fizeram o 25 de abril. Os menos optimistas realçam o papel igualmente importante dos militares no 24 de abril. Os ingratos dizem que os militares estavam a ver as guerras coloniais muito mal paradas e perante a impossibilidade de vencer a guerra resolveram livrar-se dos governantes. Os ingratos são capazes de ter razão.

Alternativamente, o 25 de abril pode ser abordado no âmbito das teorias da conspiração. De facto, ficamos estupefactos com a existência de cravos às centenas de milhares naquele dia, mesmo ali a jeito de serem utilizados por toda a gente. Convenhamos que se hoje alguém quisesse ter umas centenas de milhares de cravos era capaz de ter que encomendá-los com muita antecedência.

Por fim, temos o 25 de abril reinterpretado à luz das vivências actuais. A inflacção no último ano tinha sido de 20%. A outrora moeda forte devia estar sob ataque dos Soros da época. Para um país pequenino sem um bom suporte político externo isso é morte certa, sabe-se hoje. A indústria foi nacionalizada, afinal porque estava falida e não tinha competitividade, nacionalizações à moda de hoje. Os transportes foram nacionalizados, mas os transportes estavam sob o choque do preço dos combustíveis, logo à rasca, e se revertessem directamente os custos para a sociedade tinha-se uma sublevação. A banca foi nacionalizada pelo estado, mas afinal a banca sempre esteve em concubinato com o estado e o poder político, sabe-se hoje. Vinte e cinco de abril, sempre.