Todos sabemos quanto vale o discernimento humano. Pouco. E o dos juízes. Igualmente pouco. E, no entanto, por uma necessidade qualquer interna, sempre que um caso é julgado a consciência colectiva fica descansada. Se o juiz decidiu, pronto. Quem somos nós para pôr o juiz em causa? O sobre-humano. Aquele a quem entregámos o poder de ver a verdade.
E, no entanto, os juízes parecem umas pessoas como as outras. Um gajo qualquer que faz o curso com média de 14, independentemente de ter copiado ou não, e que frequenta um curso de juiz fica assim habilitado a ver a verdade por mais escorregadia que ela seja. Claro que existem excepções, como a de um que se queixava que não poucas vezes os malfeitores eram vistos a rir das sentenças que ele tinha acabado de dar ou de uma que era tão estúpida que percebia invariavelmente ao contrário tudo o que alguém dizia à sua volta. Mais do que habilitado a ver a verdade, a referida média de 14 e o tal curso de juiz também lhe fornecem, aparentemente, a coragem necessária ao desempenho das suas funções. É ver o ex-menino marrão que de todos levava porrada agora disposto a fazer frente aos malfeitores, quaisquer que sejam. E é-lhe indiferente estar perante um ministro, um psicopata ou um barão da droga. É um bom curso e os resultados estão à vista. Até o gajo que conseguiu o 14 a copiar se torna, por via do referido curso, um arrependido honesto até ao fim dos seus dias e um cidadão zelador da lei.
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