Os media minimizaram o assassinato de um transeunte às mãos da polícia na London Summit. Foi preciso surgir uma gravação vergonhosa para os media bem comportados se sentirem obrigados a relatar o evento ou a pôr em causa a versão oficial do mesmo. Foi preciso a cimeira acabar para os media bem comportados acharem que o momento era oportuno à divulgação. BBC e companhia deram a notícia quando toda a gente que queria saber já sabia dela pela net. A divulgação do vídeo na net deve-se ao guardian. Em Inglaterra há grandes jornais: guardian, independent e telegraph.
Cá, como na china, o assassinato procura sempre uma legitimidade. Na china usa-se a legitimidade do patriotismo. Quem incomodar é preso e está ao serviço de potências estrangeiras, mesmo que esteja a incomodar porque perdeu a casa e ficou sem nada para o governo fazer os jogos olímpicos ou uma mega-barragem. Mesmo que esteja a incomodar porque quer comer e o governo lhe contaminou os terrenos que cultiva. Por cá, utiliza-se a legitimidade democrática, ou seja, elegemos os governantes, somos informados pelos media e temos os tribunais como garantia. Acontece que estamos a eleger ditadores, que os media têm uma selectividade suspeita nas notícias e que os tribunais não funcionam. Mas a ditadura que nos governa está bem legitimada, isso é que é preciso.
Os media ajudam à propaganda no que podem. Por cada 20 cm de espaço dedicado ao incidente, comemos depois com 1 metro de espaço dedicado aos inquéritos, à procura de justiça, ou seja à justificação de que vivemos num regime civilizado. A justiça cumpre assim o papel de se superiorizar à justiça popular, àquela segundo a qual aqueles polícias deviam ter acabado logo ali, julgados pelos presentes e pela evidência dos factos.
P.S.: As notícias são-nos dadas de tal forma que os que comentam no público nem se apercebem que a maioria dos comentários surgem já como comentários ao inquérito e não à notícia original, notícia essa que assim se vai desvanecendo. Faz-se pois do inquérito a notícia, um processo de legitimação.
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