Antigamente os bandidos faziam contrabando. Eram bandidos porque não acreditavam no direito do estado cobrar impostos pela entrada de bens no território dito nacional. No fundo eram os precursores da UE e da própria globalização. Um bandido assim era invariavelmente uma pessoa de bem, respeitada na comunidade, conseguindo não raro a colaboração das próprias autoridades que, complacentes, toleravam a actividade quando não vigiavam o desembarque da própria mercadoria.
Bandidos desses já não há. Hoje os maiores bandidos andam por aí de colarinho branco, com ar amaricado, beato, de menino do coiro ou de escuteiro. São bandidos que não têm qualquer sentido de participação numa comunidade que não seja a dos próprios bandidos. Hoje tudo falta aos bandidos. Não aguentariam um par de chapadas. Não têm qualquer carisma. São incapazes de qualquer ousadia que não seja a de comprar uma casa maior. Vivem entre o medo da cona e o pagar a putas. São bandidos que enriquecem à conta de transferências bancárias para off-shores e nem programadores são. São bandidos que nunca o ousariam ser a não ser na total impunidade. São uns bandidos paneleiros de merda. Um bandido a sério é ousado, criativo e corre risco de vida. É um gajo que tem uma forma qualquer de inteligência. É temerário e temível e desperta inevitavelmente a nossa simpatia, quanto mais não seja porque é alguém que almeja uma forma qualquer de superação.
Num filme com bandidos a sério existem polícias a sério. Os polícias a sério acreditam na justiça e neles próprios. Um polícia a sério não perde a oportunidade de dar um tiro num bandido a sério. E vice-versa. Não temos nem bandidos a sério nem polícias a sério.
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