100.000

Uma senhora andava um bocado chateada com as saídas nocturnas do marido que não lhe dava assistência. Um dia resolveu impor-se e explicou: “Cá em casa fode-se às quintas-feiras. Quem está, está, quem não está, paciência.” Queria com isto a senhora dizer que o marido podia sair às quintas-feiras com quem quisesse, na certeza, porém, que ela às quintas-feiras haveria de consolar a passarinha. Com quem estivesse presente, às quintas-feiras.

A construção civil pediu 600 milhões de contos. Para não pôr 100 000 gajos na rua. Não se percebe para quê, se ninguém compra as casas. Mas também não se percebe como aguentar cem mil gajos desses em protesto e/ou entregues à marginalidade.

Uma vez por mês, aqueles 100 000 gajos precisam do salário e de levar comida para casa. De qualquer forma. De uma forma ou de outra. Tal como os camionistas. Tal como a senhora que iria consolar a passarinha às quintas-feiras. Há muitos, muitos anos, a construção civil cercou o parlamento. Hoje isso não seria fácil, porque provavelmente são quase todos ilegais. Mas, mesmo assim, têm que comer. O pessoal da construção civil é um pessoal complicado.

P.S.: Comparativamente aos já 500 milhões de contos para o BPN, os 600 milhões de contos para a construção civil parecem um investimento razoável. E o problema é que ninguém sabe se são 600. E o problema é que já gastaram o dinheiro todo que havia para gastar. Todo. Every little bit.


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