Entre a liberdade e a bandalheira a fronteira sempre foi difícil de definir. De tal forma que em cada fã declarado da liberdade sempre se suspeitou um apoiante discreto da bandalheira. Veja-se por exemplo a apologia da liberdade por um ilustre economista, o sr. neves, descrita por um dos seus fãs: “O que mais ressalta nestes artigos (crónicas de João César das Neves publicadas semanalmente no Diário de Notícias entre Fevereiro de 2005 e Fevereiro de 2007) é a recorrência de avisos acerca da perda da liberdade. O combate ao aquecimento global, ao crime económico, ao fumo, à sinistralidade rodoviária, à evasão fiscal e a tantos outros males, sempre promovida pelo longo braço da lei, criaram uma sociedade mais policiada e regulamentada.”
Não foi preciso esperar muito para ver o quanto a liberdade financeira pecava mais por excesso do que por falta. E também não foi preciso esperar muito tempo para assistir à radicalidade com que os avessos ao escrutínio estatal se disponibilizaram para obrigar o estado a prestar-lhes apoio: “Em momento de crise financeira seria tolice preocupar-se com o equilíbrio das contas. Esta é a altura de o Estado se endividar”. Como se não fosse pouco, assiste-se a que a economia, a ciência das contas, afinal abdica das contas, um problema grave de identidade: “Quando a 6 de Outubro passado, no mais fundo do pânico, o ministro das Finanças garantiu a totalidade dos depósitos portugueses, não interessava indagar dos fundos que o suportavam.”
Interessante também que, abdicando de fazer contas, ainda assim reclama manter a sua legitimidade científica quando diz: “O deputado Manuel Alegre não ficará zangado se eu disser que, tal como Fernando Pessoa, ele não percebe nada de finanças.” Presume-se, pois, que o sr. neves percebe de finanças, por oposição ao sr. manuel. E, no entanto, o sr. neves foi tão bom como os melhores economistas a prever publicamente a crise, ou seja, foi muito mau, tão mau como qualquer anónimo. E esse é o motivo pelo qual não se percebe porque delegar a solução da crise ou a sua interpretação ao sr. neves e companheiros de profissão.
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