gajas dos cartazes

Já repararam nas gajas dos cartazes, certamente. Vamos pela rua e, de repente, damos ali com uma boazuda, tezuda, que está mesmo a pedi-las. Por vezes, vamos a correr buscar a máquina fotográfica. Outras vezes não, já estamos preparados. Ali está o cartaz, à nossa mercê, com a gaja e uma coisa qualquer que querem que a gente compre ou aceite.

É aí que a porca torce o rabo. A gaja quer sempre que a gente compre qualquer coisa. Já nos habituámos a isso. Ora, foda-se. Porque é que o cidadão não há-de ter direito ao mesmo cartaz só com a gaja e sem nada para comprar? Porque é que a beleza há-de ser propriedade de uma marca qualquer ou de uma agência publicitária? Porque é que a nudez ou semi-nudez pública só são decentes ou legítimas se postas ao serviço de objectivos comerciais? É uma ética estranha.

Conheço um gajo que ganhou o euromilhões e queria encher as ruas de Lisboa de cartazes com gajas. Gajas boas, boas a sério. Em cartazes sem mais nada, sem marcas, sem nada para vender. Os éticos uniram-se todos com o fim de evitar a blasfémia. O espaço público para afixagem de gajas boas não podia ser utilizado para fins não comerciais. Era obsceno. Mas o gajo quer encher a cidade de imagens de gajas boas. E vai conseguir.

paint the town


Publicado

em

por

Etiquetas:

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *