já não se usa

Uma amiga minha costumava dizer, a propósito de todas as coisas: “isso já não se usa”. Com ela aprendi que o “isso já não se usa” é uma frase aplicável não só a roupa. É aplicável a coisas tão diversas como comportamentos, atitudes, pensamentos, etc. O sporting comeu 0-5 com o bayern. Já não se usa. Depois comeu 7-1 na segunda mão. Já não se usa, mesmo. Tudo somado, dá 12-1. Nunca se usou. É demais, foda-se. Em qualquer sítio de gente normal, o treinador vai fora. E não vai por ser mau treinador. Vai porque há que ter vergonha. Vai porque há que dizer às pessoas que o clube não considera aceitável comer 12-1. Posto isto, é provável que não vá fora. Já estamos por tudo. É este o significado da tolerância.

Somos um povo tolerante, sempre se ouviu dizer. Graças a isso temos o sr. sousa, mas não faz mal. Temos o sr. silva, mas não faz mal. Temos hordas de trastes que fingem que são banqueiros, gestores e empresários, mas não faz mal. Hordas de trastes que fingem que são trabalhadores, mas não faz mal. Hordas de trastes que fingem que são reformados, mas não faz mal. Temos hordas de gente que exerce as mais diversas profissões, mas de cujo exercício não resulta nada de jeito. E isso inclui economistas, reguladores, professores, cientistas, polícias, juízes, sindicalistas, autarcas e quase tudo aquilo de que me lembro. Para com todos eles somos tolerantes. Esta é uma tolerância que não nos leva a lado nenhum. Uma tolerância a que devíamos dizer “isso já não se usa!”. Mas isso era ter esperança. E “isso já não se usa”.