De algum tempo a esta parte iniciou-se uma nova época do pluralismo. A TV convida dois comentadores (reparem, dois, sinal de diferentes opiniões) e depois os dois dizem exactamente o mesmo. Aparentemente resulta mas as audiências vêm todas para a net, pois claro.
Um destes dias estavam dois comentadores a comentar a história do Carmona na Câmara de Lisboa. O retrato é mais ou menos este:
– O primeiro comentador dizia que o Carmona não servia e que estava a ficar mal visto com o seu comportamento, por não obedecer ao chefe do partido que o pôs lá, e se tinha enterrado politicamente para sempre.
– O segundo comentador dizia que, apesar de conhecer o Carmona há muitos anos, e de ter a certeza que ele era uma pessoa honesta, achava que o Carmona, apesar de bom técnico, tinha sido politicamente incompetente e que por isso também não servia.
Ambos pareciam escandalizados com o facto de ele não se ir embora, o que segundo ambos, mostrava um apêgo ao poder inaceitável.
A questão não é a da justiça da opinião dos comentadores. A questão é que ninguém se interessa por ver um jogo de futebol em que as duas equipas chutam para a mesma baliza. Acabem com esse modelo de debate ou a gente acaba-vos com as audiências.
Os debates unidireccionais não são uma situação ocasional, um acidente resultante de uma escolha errada dos comentadores. São um novo modelo de debate, uma ficção política e comunicacional que pretende coartar o direito da audiência a ouvir opiniões diversas de uma opinião ou ideologia que se pretende inquestionável.
Os debates unidireccionais são fascismo. O fascismo sempre precisou de papagaios. Papagaiozinho por papagaiozinho, prefiro o papagaiozinho deste post.
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