O carnaval é uma tradição antiga. Radica na de outras festas, como as saturnais, que permitiam ao povo comportar-se temporariamente fora da lei e dos cânones. Por isso não se sujeita ao direito. Por isso não se sujeita ao bom senso. Por isso, só se sujeita a um direito, que é o da razoabilidade tal como definida por uma tradição. Uma forma de bom senso alternativa.
A tradição carnavalesca nacional diz que os políticos e os actos políticos são objecto privilegiado das sátiras carnavalescas. É nesse contexto que surge o magalhães e as gajas. Toda a gente sabe disso. O magalhães empornado não é justificável, não tem que o ser. Só tem que ser enquadrado dentro de uma sátira que não tem que se justificar nem sequer ser legítima. Neste caso é.
O magalhães é um veículo da propaganda do pretenso sucesso nacional. O magalhães é apresentado como um produto único. E, no entanto, está colocado lado a lado nas pratelerias com computadores que custam 80 em vez de 60 contos mas que trazem discos de 160 giga em vez dos 16 giga do magalhães.
A sátira mostrava o magalhães com gajas nuas e em situações obscenas. Então mas não é para isso que serve a internet? O que é um computador ligado à internet nas mãos de um adolescente, e não só, se não uma máquina de bater punhetas? Claro que sabemos que também é uma máquina de jogos e uma rede de contactos no hi5. Agora o que faltava era termos que fingir que acreditamos que por causa disso vamos ser um país competitivo e cheio de bons cidadãos.
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