Há muito tempo que se institucionalizou o termo economia real. Diz-se que a crise chega à economia real ou que não chega à economia real. O termo economia real serve para nomear uma coisa que ninguém diz o que é. Na verdade ninguém diz o que é a economia real. Ninguém diz quais são as fronteiras que separam a economia real da outra.
O chornal diz o que é a economia real. A economia real é aquela que nos põe a comida no prato, que nos faz os automóveis, as casas, etc. Surpresa, a economia real é uma pequena parte da economia. O peixe que o leitor compra a 3 contos, custou 300 escudos mais 200 escudos de transporte. Esses 500 escudos são a economia real, o que o comprador come. Os outros 2500 correspondem ao valor criado pela agregação monopolista de hipermercados à margem de qualquer conceito de comércio justo.
Os 2500 são o grosso da economia, tal como é medida pelo PIB. Quando se diz que a crise pode chegar à economia real está-se a dizer que os pescadores podem deixar de pescar. Pode-se deixar de construir casas e de produzir automóveis. Está-se a dizer que dos 3000 escudos que o consumidor paga não se conseguem arranjar 300 escudos para quem o pesca. Ou 200 para quem o transporta. Os 300 escudos dos pescadores são a economia real. Os 2700 escudos restantes são os serviços. É assim que se calcula o PIB. É por isso que somos uma economia de serviços. A economia real é a dos produtores falidos. A economia é a do belmiro.
P.S.: Mas eis que o próprio belmiro está ameaçado. Eis que até ele encontrou finalmente adversários à altura. Falaremos disso num dos próximos posts: o capitalismo dá lugar ao clepitalismo.
Deixe um comentário