Dr. Ivanoff: sexo em tempo de crise financeira (parte II)


Esta é a segunda das conversas do chornal com o Dr. Ivanoff. O chornal regozija-se com a oportunidade de ter consigo este convidado, um cientista de craveira internacional, uma referência na sua área de conhecimento.O Dr. Ivanoff é é um perito em antropologia sexual, um domínio relativamente desconhecido do público.

Chornal: Dr. Ivanoff, sendo esta a nossa segunda conversa, talvez pudéssemos começar por resumir aos leitores um pouco da primeira conversa, Que lhe parece?

Dr. Ivanoff: Olá. Boa noite para si e para os leitores. Acha que se deve fazer um resumo da primeira lição, não é? Não acha isso um bocado escolar demais? Está bem. Desde que seja você a fazê-lo.

Chornal: Está bem. Então eu diria que na primeira conversa prometemos ao leitor que íamos falar de sexo e crise financeira mas acabámos a falar de outras coisas, como sempre. Lembro-me da nossa tentativa de definir o domínio da antropologia sexual. Lembro-me também das suas reservas relativamente à definição de problemas e, lembro-me, por fim, que terminou falando da importância de seguir o instrumento.

Dr. Ivanoff: Acho que esteve atento na lição. Está aprovado.

Chornal: Então por onde começamos hoje, Dr. Ivanoff? Que tal começarmos pelo fim da última sessão? Não lhe parece um pouco radical essa afirmação de seguir o instrumento? Está-se a falar do instrumento sexual. Recomenda mesmo que se siga o instrumento a todo o custo?

Dr. Ivanoff: Eu disse isso?

Chornal: Acho que sim. Pelo menos foi a ideia com que fiquei.

Dr. Ivanoff: A ideia com que queria ficar. É mais o que me parece.

Chornal: Peço desculpa (risos). Então esclareça-me lá. Volto então a fazer a pergunta. Acha mesmo que se deve seguir o instrumento a todo o custo?

Dr. Ivanoff: Acho que há que ter respeito pelas indicações que dá. Muito respeito. Como diz o povo, o respeito é muito bonito. Não lhe estou a dizer para o fazer a todo o custo. Isso seria uma patetice. Existem demasiadas situações em que fazer o que o instrumento manda traz mais problemas do que o razoável.

Chornal: Não o reconheço. Agora o Dr. Ivanoff parece-me estranhamente moderado. Diga-me lá: teve alguma má experiência recentemente? (risos)

Dr. Ivanoff: Ah!Ah! Então agora é você o terapêuta? Ainda tem muito que aprender. Isso não se faz assim. Vá lá para a escola que só lhe faz é bem. Ainda tem muitas papas que comer.

Chornal: Pronto. Já percebi Volto humildemente para o meu lugar de aprendiz. Continue lá, doutor.

Dr. Ivanoff: Está melhor. Baixe lá a bola que só lhe faz bem…

Chornal: Não bata mais. Já chega, doutor. Pronto, estiquei-me. Já lhe aconteceu certamente.

Dr. Ivanoff: Voltemos então ao fundamental É certo que seguir o instrumento traz problemas. Não o seguir também os traz. Para lhe chamar a atenção para os problemas de não seguir o instrumento estou cá eu. Para lhe chamar a atenção para os problemas de seguir o instrumento está cá todo o resto da sociedade, a escola, a sua educação, tudo o resto.

Chornal: É por isso que não se preocupa com os problemas que decorrem de seguir o instrumento.

Dr. Ivanoff: Exactamente. Não me preocupo em falar desses problemas. Para isso estão cá outros. Tenho uma noção muito exacta do meu papel. É um papel que tenho por bem definido.

Chornal: Referiu o resto da sociedade, a escola, a sua educação, tudo o resto. São os seus inimigos? (risos)

Dr. Ivanoff: Alguns deles. Existem outros. O vizinho do lado que tem um cão que não se farta de ladrar, o sócrates, o polícia que quer que eu ande com os documentos, a direcção geral dos impostos, o despertador. Essa merda toda. Desculpe. Agora fui eu que me excedi.

Chornal: Já vi que sim. Voltemos então ao fundamental, como disse. Voltemos às tais forças que desconsidera: a sociedade, a escola, a educação, etc. Esqueci-me de alguma?

Dr. Ivanoff: Muitas. Não mencionou a religião por exemplo. E a religião é uma das maiores.

Chornal: O que é que tem contra a religião?

Dr. Ivanoff: A religião é um fenómento complexo. Prefiro não falar da religião. Aliás, não existe uma religião, mas religiões, tantas como as pessoas que as têm, porque uma religião nunca é igual quando passa de umas pessoas a outras. Não gosto muito de falar da religião que as pessoas têm. Tenho um certo respeito por essa. Gosto mais de falar da religião que as pessoas pensam que têm.

Chornal: Pensam que têm?

Dr. Ivanoff: Sim. Dou-lhe um exemplo. Algúem pensa que a monogamia é que está bem porque lhe ensinaram isso na sua religião. E é mentira. A religião desse alguém é poligâmica e ele não sabe. Como é que isso se passa? Sei lá. Sei é que na Bíblia os indivíduos poligâmicos eram vistos como pessoas de bem. Não eram discriminados, como se diz hoje, por causa disso. E o mundo dá muitas voltas e, não sei como – ou antes, sei – as pessoas dão hoje consigo perante um discurso religioso que ostraciza a poligamia.

Chornal: Sei que faz da poligamia um cavalo de batalha.

Dr. Ivanoff: Não diria tanto. Estas coisas não se resolvem com batalhas. Mas é verdade que me escandaliza um bocado a maneira como se hostiliza a poligamia. É uma manifestação de ignorância fundamental: uma ignorância histórica, sociológica e sobretudo antropológica.

Chornal: Humm. Acho que a poligamia dava um bom tema para a próxima sessão. Estou a dizer isto porque está na hora de terminarmos por hoje e me parece que o tema tem muito mais para dar. Podemos ter a poligamia como tema para a próxima sessão?

Dr. Ivanoff: Claro que sim. Vamos a isso. Eh!Eh! Não vamos deixar pedra sobre pedra….

Chornal: Então boa-noite Dr. Ivanoff. Até breve.

Dr. Ivanoff: Então boa-noite e até breve também. Sigam o instrumento.


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