Aprovado pelo governo em plena silly season. Pagamento em espécie: uma pérola da modernização. Estão a ver como era a agricultura antigamente? O trabalhador ia apanhar figos e o patrão pagava-lhe em figos, dando-lhe um terço ou um quinto dos figos. A figura do pagamento em espécie beneficiava de alguma racionalidade numa sociedade agrícola de subsistência. Numa sociedade moderna só poderia surgir num arroto de demência. Pois o eng. Tubi or Notubi resolveu desenterrar essa figura anacrónica. Uma figura anterior à criação do dinheiro.
A partir de agora, e sem acordo do trabalhador, o patrão pode pagar em espécie. Fantástico. Mirabolante. Demente. Ainda não percebeu? O amigo trabalha no Continente? O patrão paga-lhe em detergentes e garrafas de vinho. O amigo trabalha na FNAC? O patrão pode pagar-lhe em CDs dos anos 70. O amigo é prof? O patrão pode pagar-lhe em formação. O amigo trabalha numa empresa de telecomunicações? A patroa pode pagar-lhe em chamadas de valor acrescentado ou em chamadas para Tóquio. A amiga é puta? O patrão pode pagar-lhe como achar mais conveniente. O amigo trabalha numa fábrica de preservativos? Recebe em preservativos.
A partir de hoje, graças à nova lei, inacreditável, o leitor poderá ver o seu salário pago integralmente com um dos seguintes produtos: línguas de gato, comida para cão, vacinas para a hepatite B, carros em segunda mão, fodas da patroa, sapatos tamanho 45, protector solar, telemóveis usados, bilhetes de lotaria, papas de milho transgénico, antibióticos para a infecção urinária, publicidade outdoor ou farinha amparo. É o progesso…
Sem acordo do trabalhador. A decisão é do patrão, desculpem, empresário, desculpem, empreendedor. Desculpem, puta que o pariu, pró caralho que o foda mais a mãe dele e os cornos do pai que o viram nascer.
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