Em 1994 fui a Israel. Eu a Maria e o miúdo mais velho, com 5 meses na altura.
Comprámos o bilhete de avião e o resto foi à descoberta.
Alugámos um carro – com uma matrícula das boas, daquelas que não dão aos árabes, daquelas que nos deixam passar nos postos de controlo – e fomos tomar banho ao Mar Morto.
Foi um dia fantástico, nem me lembro o que almoçámos, mas lembro-me que boiei, o que não consigo fazer no nosso mar.
No fim do dia, estavamos a preparar-nos para voltar, e o carro de um judeu ortodoxo – daqueles com chapéu preto e tranças – derrapava nas encostas do Mar Morto, ali ao nosso lado, e não conseguia subir. Era uma Ford Sharan de 7 lugares, cheia de gente, sacos e caixas, com demasiado peso para a inclinação e o tipo de solo.
Um deles saiu para empurrar o carro. Eu aproximei-me para ajudar.
Ele acenou, efusivamente, com as mãos a dizer que não queria ajuda. Quanto mais eu me aproximava, mais ele parecia agitado e histérico.
Quem é que ele pensou que eu era? Um árabe? Duvido, porque pela matrícula do meu carro (que tinha cor diferente das dos árabes, resultado da política de apartheid israelita), eu nunca poderia ser árabe. Então não aceitam ajuda de estrangeiros? Ou de pessoas que não têm chapéu e tranças?
Não cheguei a conseguir resposta para isto. Mas ajudei a empurrar o carro, mesmo contra a vontade deles.
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