Fiz a escola primária no tempo do fascismo. Os professores primários não eram muito diferentes daquele professor do Roger Waters, no The Wall: severos, autoritários, déspotas até. Mas vamos à história.
Na 4ª classe (4º ano, para os mais novos), entrou uma menina nova, a Lília. Um dia, os meninos começaram a queixar-se de um cheiro a cocó na sala. Primeiro um, depois outro, até que a professora decidiu averiguar. Aproximou-se e apercebeu-se que os meninos mais próximos do cheiro eram a Lília e eu.
Decidiu, então, enviar-nos à casa de banho, acompanhados, cada um, por um colega que iria olhar para dentro das nossas cuecas e procurar a origem do cheiro.
Eu fui com o Zé Pedro, que era um puto porreiro, e que fui encontrando, por acaso, ao longo dos anos, tendo-lhe perdido o rasto há pouco tempo. Chegados à casa de banho, o Zé Pedro disse-me: “tu dizes que não tens nada, portanto não preciso de olhar”. Ficámos os dois a urinar para fazer passar algum tempo e voltámos para a sala. “Ele não tem nada”, disse o Zé Pedro à professora.
A Lília foi acompanhada pela Zezinha. A Zezinha era a miúda mais bonita da turma: todos queriam namorar com a Zezinha. Mas era também uma desbocada: dizia tudo, não calava nada, e sempre em voz alta, para toda a gente ouvir. Voltaram, da casa de banho, depois de nós. E assim que entraram, a Zezinha disse logo, em voz alta: “tinha um pauzinho de cocó, e duas bolinhas de chichi”.
A Lília não voltou à escola.
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P.S.: Eu usava galochas de borracha, e pisava tudo pelo caminho. Nesse dia, tinha pisado cocó de cão antes de chegar à escola.
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