Restaurante

No restaurante.
Atrás de mim, sentou-se um casal. Veio ao engano, como eu.
Ela é mais velha que ele, divorciada. Ele é um puto, nunca casou ou acasalou.
Ainda não me virei para lhes ver as caras, basta-me ouvi-los.

Na TV passa Kassav, Soraia Ramos, Yola Semedo, e é difícil manter-me sentado sem me levantar e dançar.

Ele confessa-lhe que é daltónico, diagnosticado aos 13 anos, mas mostra um conhecimento pouco usual sobre cores, apesar disso – CMYK, e não RGB, por isso é designer ou de (outras) Belas Artes -, cores primárias, secundárias, terciárias… é insistentemente enfadonho. O riso histérico dela, de quem quer sair daqui e ir deitar-se com ele debaixo dos lençóis, esvai-se e dá lugar a um discurso acidulado: “Estás a ser demasiado minucioso”.
Ele não compreende e continua. Mas acho que ela está com tanta vontade, que ele vai ter sorte.

Daqui a pouco já me viro para lhes ver as caras.