A Bélinha era uma mulher com as carnes bem organizadas.
Conheci a Bélinha muito antes de a ver pela primeira vez. Toda a gente – os homens – falava dela e eu vivi meses de desespero até que a vi, pela primeira vez, num corredor do IST, enquanto aguardava na fila da secretaria.
Alta, de minissaia, blusa quase transparente, assente sobre o volume imenso do peito. Lábios bem vermelhos, cabelo preto escorrido, e um andar pausado – de manequim – sobre um par de sapatos altos, tão altos, quase tão altos como ela.
Vi-a uns meses depois, no Rossio, numa tarde em que o trânsito parou – por segurança – para a Bélinha passar.
Era uma estátua grega; na versão feminina, porque os gregos antigos eram uns maricas.