O beijo do avozinho


No programa da FCF (quase um anagrama do famigerado CFC), o Daniel afirmou que, obrigar a criança a beijar o avozinho, era uma violência contra o corpo da criança.

No dia seguinte, gerou-se uma onda de indignação contra o Daniel, que é um tipo mais letrado que a maioria dos portugueses que se revoltaram contra ele, e hoje, passados três dias, essa onda ainda não parou. No entanto, já começaram a surgir, aparentemente um pouco a medo, defensores da posição do Daniel: no Expresso, no DN, e nalgumas publicações nas redes sociais.

Lembro-me quando a minha mulher obrigou o meu primeiro filho a beijar o meu avô – seu bisavô -, teria o miúdo pouco mais de um ano. Esbracejou e esperneou ao colo dela, a tentar fugir – a tentar voar dali para fora -, mas ela agarrou-o pela cintura enquanto o bisavô se aproximava de beiças feitas… Lembrou-me os dias de terror que passei, na praia da Costa de Caparica, quando os meus tios corriam atrás de mim, para me levarem para dentro de água. Foi talvez o maior terror que vivi na vida.

O meu avô nem era má pessoa, pelo contrário. Era um homem simples, iletrado, de linhas duras na face. um típico Algarvio do barrocal, seco como o Cavaco, parecido na postura, mas sem a estupidez. E o meu filho nunca o tinha visto, ou raramente o via. É claro que aquela cara dura o assustou como um demónio. Obviamente que viveu momentos de violência extrema.

Obrigado Daniel, por me fazeres lembrar estes momentos infelizes, que espero não voltar a repetir.


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