Bombeiros profissionais dizem que “ninguém se entende” e pedem mudança de estratégia
Os bombeiros são peões, não são estrategas, por isso não entendem nada, nem têm nada que entender. Se o vento muda, ou se acabam de combater o fogo num local e ele avança para outro lado, é óbvio que têm que mudar de sítio. Nestas coisas não pode haver muitas cabeças a pensar, senão é o caos.
Os bombeiros só vêm o mundo deles. Os chefes vêm tudo. Basta que haja um reacendimento num sítio crítico, para que os chefes mandem os bombeiros de volta para trás. E aí, os coitados dos peões – cansados, é óbvio, e por isso, menos resistentes ao stress – começam a mandar bocas, sem saber o que dizem.
Na guerra – e isto é uma guerra – isso dá no mínimo prisão, mas na maior parte dos casos, execução sumária.
Um chefe, um comandante de operações deve ouvir toda a gente. Ouvir o IPMA, ler cartas geográficas, ler imagens de satélite, saber onde está a água, saber que meios tem disponíveis, saber para onde enviar a frota de aviões, onde estão os aviões, conhecer todos os caminhos, seja pelas cartas, seja pelos bombeiros.
Os bombeiros não mandam, são mandados. Isto é um trabalho de equipa, não pode haver soldados a dar tiros para onde lhes apetece.
E essa coisa dos bombeiros conhecerem o terreno é mentira. É fácil acreditar nisso mas é mentira. Os bombeiros são, na maior parte, voluntários que recebem formação sobre fogos. Não estudam as cartas militares dos milhares de km2 dos seus concelhos, e também não andam a gastar gasóleo, todos os dias de manhã à noite a “conhecer o terreno”. São voluntários: só aparecem no terreno quando há fogos. Há muitos caminhos no barrocal algarvio, no sítio do meu pai, que eu duvido que os bombeiros conheçam. Nem os caminhos, nem o terreno.
Em geral, ao longo do ano, os bombeiros acorrem a situações de pequena dimensão, onde a coordenação é feita dentro da própria equipa. Daí terem a sensação de que, sozinhos, resolvem tudo.
Os bombeiros profissionais que se queixaram deviam estar calados, pelo mesmo motivo: porque sozinhos não resolvem nada. E é isso que eles não aceitam: orgulho ferido, a iniciativa própria que lhes é roubada, sensação de impotência. Claro, e depois reclamam.
Quem dá a orientação é quem vê o quadro todo, e não quem vê apenas uma parte.
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