Choco frito

Depois de muitas tentativas – umas com melhores resultados, outras com resultados menos bons e num caso, até, péssimos – decidi tentar mais uma vez cozinhar um prato de choco frito, com batatas fritas.

Voltei a ler algumas receitas na net@, para me guiar, enquanto o choco de 4kg que tinha comprado no mês passado, estava a descongelar dentro de água quente.

Um dia, durante o casamento do Pedro Dingle, celebrado na igreja de Cacilhas, fomos todos para a tasca em frente – que está hoje fechada e à venda – comer choquinhos com tinta à algarvia, enquanto a cerimónia decorria. Ainda não era meio dia, e o empregado não estava à espera de servir chocos àquela hora, mas não se fez de rogado: mandou-nos sentar e foi tratar dos chocos. Retirou uma bola de choquinhos congelados, do tamanho de um garrafão de vinho de 5 litros, do congelador e, debaixo de água quente corrente, ia descolando e retirando os chocos um a um, com a ajuda de uma espátula de pintor. O homem era um artista, e ainda é, ainda por lá anda, um gordinho que circula por aqueles restaurantes do Peralta de Cacilhas, restaurantes medalhados com uma placa Prestige, que lhes foi atribuída por servirem sardinha negra congelada e rançosa. Suava as estopinhas enquanto descascava a bola de chocos, com mais precisão que um cortador de quebabe, mas não se atrapalhava: enxugava o suor com as mangas da camisa branca, enquanto a espátula pingava tinta de choco que escorria pela camisa abaixo e ia pintando uma faixa negra pelos botões abaixo. Quem olhasse distraído, poderia pensar que as nódoas eram uma gravata preta e poderia até confundir o empregado com um dos convidados do casamento… Apesar de tudo, os chocos ficaram saborosos.

À medida que o choco ia descongelando, a casa ia ganhando um cheiro que me fez lembrar o Ginjal, em Cacilhas, no início da década de setenta: um cheiro a cabeças de peixe-espada podre, que usávamos nos camaroeiros, para apanhar carangueijos. Abri o choco com uma faca, extraí-lhe as entranhas, que coloquei no lixo, e cortei-o às tiras. O choco costuma ser branco, mas este não era. Ou, pelo menos, algumas partes não eram: tinham um ar esverdeado.

Lembrei-me de dois pratos que se comem podres: salmonete e perdiz. Frescos não prestam, se não estiverem já em início de decomposição não sabem a nada. “Porque não o choco?”, pensei.

Então aqui vai o “resto” da receita:

  • 3 kg de choco limpo
  • 10 dentes de alho
  • 4 folhas de louro
  • 1 ou 2 malaguetas
  • sal
  • vinho branco
  • 3 limões
  • pimenta moída

Amanhar o choco e cortá-lo às tiras. Cozinhá-lo com água, sal, uma malagueta, 2 folhas de louro e 4 dentes de alho picado ou esmagado, em lume brando, durante 15 minutos.
Depois de cozido, escorrer o choco e pô-lo a marinar, durante 2 ou mais horas, no sumo e casca dos limões, vinho branco, pimenta, restante alho picado ou moído e 2 folhas de louro.
Fritar, em óleo quente, passado por farinha de trigo, depois por ovo, e por fim por farinha de milho ou pão ralado.


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