Síria

O título tão curto – Síria – parece reduzir esta nação ao estado de guerra em que vive neste momento, que é o tema deste texto, mas é apenas uma simplificação de conveniência.

Há uns anos, quando vi na televisão a destruição dos Budas de Bamiyan, por parte dos Taliban, fiquei chocado aquela atitude, incompreensível para mim, de intolerância religiosa. A intolerância religiosa tem feito estragos tão maus ou piores – guerras religiosas, cruzadas, com mortes de parte a parte – mas compreensíveis, pelo menos para mim: os homens lutam e matam-se.

Mas, a destruição do património cultural da Humanidade eu não consigo compreender(1). E, por isso, não conseguia compreender porque é que o grupo dito Estado Islâmico continava a destruir património cultural – primeiro a cidade de Nimrud e, há pouco tempo, Palmira – sem ser punido por isso.

Tendo em conta que vários países europeus já tinham anunciado há uns meses atrás que tinham iniciado os ataques aos dito Estado Islâmico, o facto de não terem evitado a destruição de Palmira não fazia sentido. O meu cérebro entrou num ciclo de perguntas sem resposta e desligou.

Ontem li um artigo onde o presidente francês, François Hollande anunciou o início dos bombardeamentos na Síria – e encontrei a peça que faltava para perceber o que se passa.

Hollande insistiu que Bashar Al-Assad deverá deixar o poder durante a transição:
“Não se deve fazer nada que possa consolidar ou manter o poder de Bashar”

Ou seja, não havia coligação nenhuma a combater o dito Estado Islâmico até agora. Aliás, tanto não estavam a combatê-lo que não havia relatos nem consequências desse combate. E porquê, porque os países europeus, e os EUA provavelmente também, assim como Israel – que segundo o Donald Trump é o maior financiador do dito Estado Islâmico – estavam interessados em que esse dito Estado Islâmico derrubasse o presidente Bashar al-Assad.

Mas a vaga de refugiados que invadiu a Europa nos últimos meses foi um imprevisto para os governantes europeus, que agora estão a braços com uma situação que não conseguem resolver. Então vão tentar acabar com o mal na origem, vão tentar parar com a guerra civil na Síria.(2)

A somar a isto tudo, a Rússia apoia Assad e já anuncia há uns meses a sua possível intervenção no conflito, e Putin confirmou, há 4 dias atrás, o envolvimento militar russo na Síria. Dois dias antes, um navio de guerra russo passou no Bósforo, aparentemente, carregado de material bélico e a caminho da Síria.

Os EUA, entretanto, pediram à Grécia para recusar a passagem de aviões russos para a Síria. Moscovo reagiu: “Trata-se de uma ideia estúpida, e se Atenas a apoiar, tal será considerado hostil em relação à Rússia”, afirmou o senador Vladimir Djabarov.

Por fim, que este texto já vai longo, Cameron juntou-se a Hollande na ação bélica contra a Síria – ou o dito Estado Islâmico – mas o objetivo é, obviamente, travar a vaga de refugiados.

(1)Há quem tenha “compreendido” o problema de outra forma: escondeu a cabeça na areia e diz que as imagens das destruições são editadas (Photoshop e Premire).
(2)Ainda ontem o dito Estado Islâmico tomou o último poço de petróleo Sírio, que ainda estava nas mãos de Bashar al-Assad.

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