Um dos 10 mandamentos da Bíblia (Êxodo 20:1-17) diz: “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra”.
O Corão não proíbe, explicitamente, a representação de Maomé, mas existem algumas hadiths – tradições orais e escritas, com jurisprudência no Islão – que proíbem os muçulmanos de criar representações visuais de figuras, para evitar a idolatria, tal como na Bíblia.
E este é o primeiro grande erro das caricaturas de Maomé. Poderia ser ignorância dos autores, mas não creio que fosse. Os franceses têm uma relação com os muçulmanos diferente da nossa portuguesa. Nos anos 70 e 80 sofreram diversos atentados, que ainda lhes doem, e portanto acredito que este erro foi propositado: foi uma provocação.
Por outro lado, não podemos ver esta provocação aos muçulmanos com os nossos olhos ocidentais. Eu – e muitos europeus de tradição católica (casei-me só com uma mulher, comemoro o Natal, etc.) – estou-me nas tintas para a Igreja e para o Papa; pouco me importa se os caricaturam ou não. Mas muitos muçulmanos estudam o Corão logo desde novos, e seguem as tradições muito fielmente: comem com a mão direita, limpam o rabo com a esquerda, têm técnicas explícitas para sacudir o pénis após urinarem… É claro que essas tradições eram necessárias no passado, por questões de higiene em regiões onde não havia água para se lavarem, mas criaram jurisprudência, e eles seguem-nas.
Portanto, não podemos julgar um muçulmano à luz das nossas tradições. Não podemos esperar que ele encare as caricaturas de Maomé como nós encaramos as caricaturas do Papa.
As caricaturas são uma provocação. Uma provocação repetida. E quem as fazia sabia o que estava a fazer.
O resto é o curso da História.
Um erro
por
Etiquetas:
Comentários
Um comentário a “Um erro”
-
Na dialéctica da instável fronteira entre o racional e a superstição,
engorda e prospera a iconoclastia:
Deixe um comentário