combustíveis, cadeia de valor, fiscalidade e surdez

Parte I – Cadeia de valor

O conceito de cadeia de valor diz que um produto progride ao longo de uma cadeia, sendo transformado, valorizado pelos intervenientes dessa cadeia, vendo o seu preço aumentado graças à intervenção desses agentes económicos. No que respeita ao petróleo, a cadeia de valor até ao preço final inclui os produtores, as refinarias, capital financeiro, transportadores, distribuidores e o Estado/cobrador de impostos.

Supondo que o preço final se mantém, cada um destes elementos da cadeia de valor obtém a sua parte à custa da dos outros. A única maneira de todos ganharem é aumentar o preço final. Ao produtor cabe cerca de …. do preço final. A escassez do produto reforça a posição negocial do produtor, pelo que naturalmente este procura ficar com uma parte acrescida do valor. Das duas uma: ou os outros elementos da cadeia cedem à pressão negocial, mantendo o preço ao consumidor, ou o preço final ao consumidor sobe, inevitavelmente.

Até aqui ninguém cedeu, consequentemente o preço ao consumidor subiu. Os produtores, e não só, vão manter a pressão. Está-se a atingir o patamar em que diversas actividades deixam de ser rentáveis com os actuais níveis de preço dos combustíveis: essa é a crise dos camionistas, mas também a da agricultura, das pescas e de outras actividades. Não dá jeito nenhum, uma vez que sem agricultura e pesca temos que nos alimentar por fotosíntese e 2008 já está apontado como o ano do regresso da fome em várias regiões do globo.

Parte II – Fiscalidade

O peso do estado no preço dos combustíveis é muito grande. O estado iniciou-se a mamar na gasolina há muitos anos, quando o carro ainda era produto que distinguia os privilegiados e fê-lo, inicialmente, com o pretexto de redistribuir riqueza. No entanto, quando o carro deixou de ser factor de distinção entre os privilegiados e os outros, o estado continuou a mamar, por inércia, passando a justificar-se com a necessidade de penalizar a poluição. Mais tarde, passou a justificar-se com a escassez dos produtos petrolíferos, ou seja, com o discurso da sustentabilidade.

Assim, na versão actual, o estado justifica os impostos que cobra sobre os combustíveis com a necessidade de racionalizar o consumo de um bem escasso: o combustível. Ora, para tal não é preciso o estado pôr impostos em cima do combustível. Basta que os produtores aumentem o preço do petróleo. É o que estão a fazer. Eh!eh!eh! Aliás, o que os produtores, e não só, possivelmente todos os elementos da cadeia de valor dos combustíveis estão a fazer é isso mesmo: reinvidicar uma posição mais forte na cadeia de valor, forçando o preço até um ponto em que os estados têm que deixar de cobrar impostos sobre os combustíveis.

Parte III – Surdez

Há, entretanto, um problema de surdez. Ninguém parece estar a ouvir a cadeia de valor dos produtos petrolíferos que diz: “sai estado, ou rebentamos contigo porque vais obrigar à paragem da economia.”. Este não é um problema nacional, é claramente transnacional e afecta todos os estados que se abarbataram às receitas dos impostos petrolíferos.

Parte IV – O futuro

O futuro é evidente. O estado vai ter que abdicar da sua posição na cadeia de valor. Não faz sentido que os produtores vendam a um preço mais baixo para o estado depois se abarbatar a uma mais-valia para a qual não dá qualquer contribuição. Se o que os estados pretendem com os impostos sobre combustíveis é reduzir o seu consumo então podem ficar descansados. Alguém está a fazer subir o preço dos combustíveis e o estado já não tem que se preocupar com essa tarefa. 😉

Se os estados não deixarem de cobrar esses impostos sujeitam-se às subidas de preços no consumidor, inflacção generalizada (bye bye Trichas), conflitualidade social e em ano de fome: redução da produção agrícola, piscatória, etc. O mercado vai colocar o petróleo a 200 dólares e o Estado vai deixar de cobrar impostos sobre combustíveis. Esta é uma previsão da Bruxa Má do Oeste. Tomem nota.


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Comentários

2 comentários a “combustíveis, cadeia de valor, fiscalidade e surdez”

  1. Avatar de toxinox
    toxinox

    O estado é o mau da fita! Viva a anarquia!!
    – – –
    ãh?!, Não era isso? É só o Trichas?
    – – –
    o Trichas é o mau da fita! Abaixo o Trichas!!

  2. Avatar de alex

    Com impostos, é mais fácil: assim o consumo baixa mesmo.

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