over fifty thousand

Uma vez andei num reboque. Os dois camionistas insultavam freneticamente toda a gente à sua passagem. “Comiam” as gajas todas dos carros que passavam. “Batiam” e insultavam os gajos todos dos carros com quem se cruzavam. Um frenesim anti-social de janelas abertas com mangas curtas e com um frio de rachar. Os gajos estavam a trabalhar há mais de doze horas, sempre a abrir, sempre numa maluquice do caralho. Para mim, os gajos estavam dopados. Muito.

Os camionistas são malcriados, maus e rudes. O governo tem medo deles. São mais de 50 000, muitos mais do que os efectivos da polícia de choque e, diga-se em abono da verdade, um polícia de choque visto do alto de um camião TIR parece mais um choquinho. O governo não gosta dos camionistas, mas as oposições também não. São um belo cavalo mas difícil de montar. Ninguém os quer montar porque a qualquer momento eles podem fazer grandes disparates. Conheci uma gaja assim. Por isso os partidos recusam ver-se associados a semelhantes criaturas.

O país está habituado a manifestações e greves estilo CGTP. Os funcionários públicos fazem aquelas greves estilo relógio, anuais e com duração predefinida, como as guerras simbólicas de algumas tribos primitivas. Nas manifestações de professores aparecem umas velhotas e uns amaricados, todos bem vestidos e bem comportados, a gritar umas palavras de ordem ditadas pelos sindicatos. É essa a contestação social que temos e de que gostamos. O camionista não encaixa aí.

O camionista é uma criatura temível, está entre o homem de Cromagnon e o de Neanderthal, semi-bêbedo, mal lavado e malcriado. Frequentemente cheira a colhões, a sovaco e a cholé, um autêntico três em um. As manifestações dos camionistas são diferentes. As manifestações de camionistas são feitas por barrigudos alcoolizados que se esqueceram de tomar banho, dopados à nascença. Um camionista faz-se sempre acompanhar de uma pedra ou de um pau e tem uma vontade irresistível de lhe dar uso. Os camionistas são a antítese da nossa elite, uma elite caneta. Os nossos intelectuais odeiam camionistas.

O PS e o PSD não gostam de camionistas. O BE e o CDS, por muito que ambicionem partilhar um pouco do poder dos camionistas, têm nojo deles. O PCP e os sindicatos têm o seu mundo organizado em torno de eleições bianuais e greves ritualizadas de funcionários públicos; não querem saber de arruaceiros. Ninguém quer os camionistas, são verdadeiros órfãos.

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Comentários

Um comentário a “over fifty thousand”

  1. Avatar de generalcuster
    generalcuster

    belas mamas

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