O Vitor mandou-me parar mais à frente para recolher o Sr. Salgado, que saía de um banco qualquer, na esquina mais à frente, do qual não vi o nome. A luz verde entrou pelas janelas do táxi, na escuridão da meia noite, com quase todas as luzes da cidade apagadas pela crise.
– “Boa noite, Sr. Salgado, faça favor, sente-se aqui”, convidou o Vítor.
– Boa noite, homem, ainda bem que veio. Pode seguir, taxista, vá dando umas voltas.
Pus-me a andar pela cidade: Intendente, Parque Eduardo Sétimo, Defensores de Chaves…
– “Ó homem”, avançou o Sr. Salgado, “já pensou no que é que vai fazer no futuro?”
– ???
– “Ponha lá um travão nesse disparate de aumentar o IMI sem cláusula de salvaguarda. Já viu a bomba que me vai rebentar nas mãos no próximo ano quando os clientes não tiverem meios para pagar o imposto?”
– Mas, Sr. Salgado…
– Então e o que é que eu faço com essas casas todas devolvidas ao banco? E com o crédito malparado? Como é que eu pago aos meus credores? Vá com calma. Volte lá atrás com esse disparate. Repito: já tem planos para o futuro? Veja lá no que é que se mete.
– Mas, ó Sr. Salgado…
– Deixe-se lá dessas mordomias de Sr. para aqui e Sr. para ali.
– Mas, ó patrão, eu estou de mãos atadas. Tenho a troika à perna…
– Ó Vítor, quem lhe ata ou desata as mãos sou eu. E deixe a troika comigo, que almoço com eles todas as semanas. Vá lá para casa tratar do meu problema e passe amanhã no banco para tratarmos do seu futuro. Ó taxista, pare aí à frente, que eu fico aqui.
E assim, foi. O Vítor foi para casa tratar dos problemas do Sr. Salgado. O resto já nós sabemos.
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