Caso de Amor

Tive um caso de amor com um isótopo de U ranio, o 2 35, para ser exacto.
Ao natural, existem 7 em cada mil de U ranio. É preciso purifica’-lo, e obter um volume +- de uma bola de tenis (um bocadito maior). Como é um material fissil, este volume corresponde à massa crítica, a partir da qual é possível libertar o desastre brilhante. Convém tem a bola cortada, como duas metades de um queijo limiano, separadas por um bom bocado.
Num tubo tipo canhão, colocam-se explosivos convenientemente em cada ponta. Por cima deles depositam-se os hemisfericos metais, com as faces planas olhando uma para a outra. Numa das faces coloca-se um residuo que seja um bom emissor alfa. Na outra um que quando receba o alfa emita bastantes neutrões. O desastre fica assim montado, esperando, esperando.
Um dia, o canhão é disparado. Em cada lado do tubo, explosivos são convertidos em gases. Em cada lado do tubo, hemisférios metálicos são projectados um contra o outro. E juntam-se reunindo o emissor alfa polaco com o produtor de neutroes.
Em instantes o desastre brilhante, mais intenso que mil sóis, acontece. É lindo de morrer. Foi um caso de amor que se consumiu na sua loucura.
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Por todo o lado, a vertigem dos egos continua. O caso de amor não foi apenas meu. Foi, e ainda é, uma loucura colectiva.
Um dia, alguém resolve dar uso ao não usável. Outros são precipitados para o mesmo. A dança das imitações é rápida e fugaz. Um pequeno planeta azul acaba de morrer.