Vinhos Vitor Gaspar

O vinho era enxofrado até chatear. Era assim uma espécie de ministro que veste um casaco que está guardado no armário, há mais de 20 anos, protegido das traças com naftalina. Por mais que o ministro tente arejar o fato antes da cerimónia, não consegue. Por mais que tente libertar-se do odor repelente do conservante, em vão…

Montes Claros, Alentejo tinto 2007 Reserva, 14% de álcool, Aragonez, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Tinta Caiada, 12 meses em carvalho francês e americano e 6 meses em garrafa. Um vinho da adega cooperativa de Borba que, provavelmente, aguenta mais de 20 anos em garrafa se bem conservado, tal é o teor de enxofre e álcool.

Depois dos primeiros tragos, que até a roupa passou a cheirar a naftalina, deixei-o a arejar a noite toda e a manhã do dia seguinte. Ao almoço ainda sabia ligeiramente a enxofre (precisa pelo menos de 24 horas aberto) mas já se sentia o verdadeiro sabor do vinho: um vinho fluido, homogéneo na textura, aveludado, com um sabor forte a amora, e o contraste era-lhe dado por um toque de madeira.

O vinho até se bebia… o ministro tive que o cuspir para a borda do prato.


Publicado

em

por

Etiquetas:

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *