Atão, como é que isso vai?
Tou melhor, caralho. Tenho que ter cuidado, mas já estou bom.
Ainda bem, pá. Estávamos preocupados contigo. Fazias cá falta.
É verdade. Sem mim isto não era a mesma coisa. Pelo menos para mim.
E para a gente também, pá.
Isso dito por uns comunas como vocês é esquisito.
É pá, mas é verdade. Já sabes que a gente simpatiza contigo.
Ouçam lá, ó comunas do caralho, como é que vocês adivinharam que eu ia morrer?
Não adivinhámos, não morreste caralho.
Tá bem, foda-se. Mas vocês escreveram que eu tinha morrido e dois meses depois eu apanho um AVC. É do caralho, pá. Como é que fazem isso?
Eh pá, não sei. A gente diz as coisas e acerta.
Bem, também me saíram uns bons filhos da puta. Vejam lá se não acertam mais, caralho.
A gente gosta de ti, pá. Queremos que dures mais uma data de anos. Não te viemos visitar antes porque não nos deixaram entrar. Ouvimos dizer que não querias visitas.
É verdade. Estou farto de cabrões. Um gajo está para ali sujeito a morrer e ainda tem que aturar cabrões na hora da morte? Nem pensar, foda-se.
Tens razão.
Sabes que mais? Acho que foi por aturar cabrões que apanhei o AVC.
Aturar cabrões faz mal.
Primeiro, tive que ser simpático para o sr. sousa. Depois, andei a passear o sr. silva. Eh pá. Acho que foi disso. Foi demais. Essa merda fez-me mal.
Não devias. Um gajo tem que fazer só o que quer. Já tens idade para fazeres o que queres e só o que queres. Não gostas dos gajos, manda-os para o caralho.
É isso mesmo. Acabaram-se cá os paninhos quentes. Aquela merda já me estava a fazer mal à espinha e agora ia-me dando cabo do coração.
Podes beber?
Agora não. Por uns tempos, espero que poucos.
Atão não te convidamos para um copo. Hoje não, mas da próxima vez não escapas, tens que vir beber uns copázios com a gente. Dá cá um abraço, pá.
Dá cá um abraço também.
Dá cá um abraço, pela ditadura do proletariado.
Vai-ta foder, cabrão de merda.
P.S.: O chornal entrevista Jardim, naquela que é a primeira entrevista após a sua morte. Jardim recusou-se a prestar declarações aos merdia, mas acedeu a falar com a gente. A amizade é assim. Não se compreende, vive-se. O gajo não pode com comunas e o reporter que enviámos é comunista dos 4 costados. A vida tem destas coisas. Nós somos amigos do gajo e o gajo é nosso amigo. O Jardim ainda há-de viver por muitos anos e ainda havemos de beber muitos copos juntos. Felicidades, pá!
o chornal entrevista… Jardim
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