Quem passeie um dia destes por Lisboa e não saiba ler vê uma catrefada de cartazes do Salazar. Uma catefrada é uma catrefada mesmo. Em cada paragem do autocarro, uma fotografiazinha da criatura. A cores e trabalhado no Photoshop que bem precisa. Com um ar um bocado gay, mas é o Salazar na mesma.
O motivo alegado para a colocação de tanto cartaz do Salazar é uma campanha do correio da manhã que supostamente vai vender qualquer coisa que tem que ver com o tempo do Salazar.
Diz-se que é a bem da História, da memória, etc. Mas a verdade é que Lisboa está cheia de cartazes com a cara do ditador. O próprio ditador nunca se atreveu a uma campanha assim.
Aqui vai uma história paralela que dá que pensar. Com o advento do cinema, surgiu o também o filme porno, que aliás surgiu muito, muito cedo, pouco depois do nascimento do próprio cinema. Mais tarde, bastante mais tarde, a sociedade criou leis no sentido da sua proibição, proibindo para tal os filmes que promovessem comportamentos imorais. Os produtores deram a volta à questão criando um tipo especial de filmes. O guião desses filmes era uma coisa mais ou menos assim: uma mulher ou mulheres desencaminhavam-se, faziam as coisas todas do costume daquele tipo de filmes e, no final, arrependiam-se, reconhecendo o erro em que tinham caído, sofrendo com isso e, eventualmente, voltando a ser pessoas de bem. Assim, o filme passava a ter uma moral e o pessoal continuava a ver filmes porno na mesma.
Afinal aquelas fotografias todas do Salazar são o quê? São ou não são promoção da ideia de um Estado autoritário centrado numa pessoa? São ou não são promoção da não-democracia?
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