Noites escaldantes. Um calor tórrido. Abro todas as portas e janelas da minha casa… A minha casa não tem janelas, abro só as portas… Lá fora ouve-se Beethoven, o segundo andamento da nona sinfonia. Ao fundo o ruído de 200CV. Levantei-me e fui ver quem era…
Sai um gajo vestido de branco com chapéu de coco e bengala na mão… uma das sobrancelhas tinha rimel… Tinha mesmo pinta do Alex da Laranja mecânica…
“Se queres velhas ricas, é aí a minha vizinha do lado”, disse-lhe.
A minha vizinha do lado é uma Cabra Mocha. Merece levar porrada. Para comemorar, abri 4 garrafas de tinto.
Abri com um Outeiro, Dão tinto 2007, 13% de álcool, Alfrocheiro, Touriga Nacional e Tinta Roriz. Mais um néctar do nosso amigo Álvaro de Castro. Um sabor redondo, redondíssimo, um doce suave e contínuo, um Dão típico, do melhor.
Morgado de Arraiolos, Alentejo tinto 2009, 13,5% de álcool, Syrah, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon. Ah! Lá consegui beber o vinho que me escapou no fim do ano. Bebe-se. É um daqueles que vale mais do que custa. Um sabor equilibrado, ligeiramente áspero ou adstringente, meio doce, um pouco de ácido. Fixe.
Padre Pedro, Tejo branco 2009, 12,5% de álcool, Arinto e Viognier. Originalmente abarbatado para temperar o bacalhau com broa do fim do ano, acabou por marchar como os outros todos: aqui não há filhos e enteados. Um vinho doce, frutado, com sabor a citrinos, e pouco ácido. Fixe para temperar comida.
Chateau Couronneau, Bordeaux tinto 2008, 14% de álcool. Feito com uvas de agricultura biológica, equilibradíssimo entre o doce, o ácido e o adstringente, um vinho à minha medida, um pomadão de chorar por mais, de chorar por a garrafa não ser uma magnum, ou mesmo um garrafão.
No fim ainda fumei um charuto da Nicarágua, Padrón 45 anos, eleito o melhor charuto do ano (mais caro que um filho da mãe de um Cohiba)… mas Nicarágua não é Cuba. O charuto até era bom, mas não presta.
Não me consigo levantar da cadeira.
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