Da Conservação

Os habitantes deste Recanto (In)Feliz da Europa herdaram o hábito muito romano do panis et circensesis. Assim, gostam muito de festarolas, escândalos apimentados e de edifícios novinhos em folha.

Os governantes, a todos os níveis, alimentam e, sobretudo, alimentam-se dessa vontade folclórica de grandeza e lembrança futura. É dessa sede de perenidade que surgem e perduram edifícios (vulgo, monumentos) um pouco por todo o mundo com maior ou menor beleza.

A consequência do crescimento das civilizações é a falsa sensação de segurança e de inconsciência da vulnerabilidade das sociedades face a alterações climáticas que sempre existiram. Desde a antiga Babilónia à Lisboa da actualidade. Com a agravante de que, quanto mais numerosa e poderosa é a sociedade, mais vulnerável se torna a soluços ambientais mais ou menos importantes. Por exemplo, os antigos egípcios tratavam as cheias do Nilo como algo de restaurador da fertilidade dos terrenos e basearam uma poderosíssima civilização nesse facto. Quando deixaram de existir cheias abundantes a civilização Egípcia definhou e sucumbiu às sociedades emergentes noutros recantos do Mediterrâneo.

Actualmente o nosso nível de inconsciência é de tal modo elevado que nem nos preparamos convenientemente para as situações que são recorrentes: o Ano Novo, o Carnaval, as cheias, a Páscoa, o Verão, os incêndios, o Natal, o Ano Novo, o Carnaval… (mesmo que algumas vezes a ordem mude a coisa é sempre a mesma).

E todos os anos se cortam os custos naquilo que não é folclore: limpeza de matas, correcção de estradas, limpeza de esgotos e vias de água, recuperação de edifícios, etc. E, consequentemente, todos os anos se debatem as mesmas merdas: incêndios, cheias estradas. E todos os anos se fazem apostas nas obras folclóricas.

As câmaras, tão lestas a sacar dinheiro por tudo e por nada (Contribuições autárquicas, taxas de esgoto, recolha de lixo, estacionamentos, alterações de uso, etc.) e tratando o habitante como uma vaca leiteira a quem se vai ordenhando diariamente um litro de leite, poderiam investir uns cobres na prevenção (Porra! Nem é assim tão caro senhores pesidentes! E também podem dar emprego qualificado à família!), através da conservação das infraestruturas, para evitar que todos os ano mais ou menos na mesma altura, os telejornais falem da mesma coisa.

Mas não. Construção (para sacar mais umas taxas), parques de estacionamento pago (…) e “novos equipamentos” urbanos é a palavra de ordem. Como dizia alguém à uns anos, o povo pode viver miseravelmente e morrer à fome (O panis já foi esquecido). Mas existem piscinas olímpicas e pavilhões gimnodesportivos de primeira grandeza em quase todos os concelhos do país.


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