o pessimista radical

Antes era só o Medina. O único pessimista do país. De entre os doutos, claro. Mas o Medina não tinha lugar na TV. O Medina era um marginal. Como todos os que pudessem ser acusados de pessimismo. Como os trabalhadores e os sindicatos. Como todos os que não acreditassem no futuro glorioso que se avizinhava.

Entretanto, o pessimismo ganhou clientela. Era necessário arregimentar esses clientes fornecendo-lhes um produto ideológico. O Medina ganhou um programa de TV. Alguém tinha que se apropriar do pessimismo e encaminhá-lo para doutrinas convenientes ao poder político.

O Medina apropriou-se assim do pessimismo. Um passo pequeno para um homem com tanto tempo de antena, mas um grande passo para o regime. Ao apropriar-se do pessimismo, apropria-se dos problemas. Apropria-se assim, também, por inerência, das soluções para os problemas.

Aqui há uns tempos entrevistaram o Medina. E era vê-lo a falar das desgraças com aquela alegria que lhe conhecemos. Perguntaram-lhe então se havia alguma solução. Como bom pessimista, disse que não. Insistiram. E ele disse que não. E voltaram a insistir. E nada. E, às tantas, perguntaram-lhe, então e se a srª MFL ganhasse as eleições? “Bem, só se conseguisse reunir uma equipa muito boa” – respondeu então.

Uma tristeza. Naquele momento percebi. Aquilo não era resposta de um pessimista a sério. Aquilo era a resposta de um pessimista bebé. O Medina não era um pessimista. O Medina sempre foi um optimista disfarçado.

P.S.: O Medina pode dizer “eu bem disse” mas a nós não nos engana. Já sabemos qual é o pessimismo que ele e os seus amigos opinadores nos querem vender. É um pessimismo que só questiona a viabilidade de os trabalhadores terem um vida razoável. É um pessimismo que nunca questiona a viabilidade dos rendimentos dos que mais têm. Na prática, o Medina é alguém que acredita que é sempre possível enrolar o povo e fazê-lo pagar os salários e desmandos da classe de ricos a que pertence.


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