18 e 20 de Maio

E se não tiverem o dinheiro? Dizem-nos que vamos à falência e saímos do euro. O chornal está mais além. Sair do euro e falência não é a mesma coisa. Sair do euro é sair da UE? Claro que não. Um país falido tem que sair do euro? Um país que não paga as dívidas está falido. Não paga as dívidas? E depois? Os economistas não sabem.

Claro que fingem que sabem. Mas não sabem, só sabem uns pedaços. Eles sabem é do passado. Do futuro percebem pouco. Sabem séries temporais. Merda dessa também eu fazia. Há mais de um quarto de século. E já me fartei. Aliás nem fazia, o software é que fazia. Qualquer parvo faz aquilo. Vão pró caralho. Ninguém sabe o que acontece a uma moeda quando alguns dos países que a usam deixam de cumprir os seus compromissos. Ninguém sabe o que acontece ao dólar se a Califórnia falir. Nem sequer o que acontece à Califórnia. O que os economistas sabem do futuro não vale nada.

O que sabemos é que o FMI disse que não existia grande motivo para que os nossos CDS fossem muito diferentes dos da grécia. Qualquer pato bravo sabia que após essas declarações do FMI os CDS da dívida portuguesa só podiam subir. Já se sabia que vinha aí uma cavalgada dos CDS.

E quando pára a cavalgada? Os media não dizem, nós dizemos. A cavalgada pára a 18 de Maio ou a 20 de Maio. A 18 de Maio os gregos têm que ter o dinheiro para os credores. El contado. Oito mil milhões de euros. A 20 de Maio os portugueses têm que ter o dinheiro para os credores. El contado. Seis mil milhões de euros. Ou têm, ou não têm. Até lá, pelo menos, é a cavalgada.

P.S.: As pequenas nações mediterrânicas, Portugal e a Grécia, vão montadas no caralho, segundo alguns economistas. Terão que dar o cú, segundo outros economistas. Nós não sabemos. Ao menos sabemos que não sabemos. Nunca aconteceu.


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Comentários

11 comentários a “18 e 20 de Maio”

  1. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    Aí é que tu te enganas. Näo será a primeira nem a última vez que um estado americano vai à falência. O que se passa é que a dívida federal assume essas falências, pedindo emprestado à taxa da dívida federal (tipo 1-2%), em vez do estado falido pedir novo empréstimo à taxa da dívida estadual (que pode ir até uns 20%). Entretanto a entidade federal empresta o tal montante ao estado por uma taxa à volta dos 5-10%, e ficam todos a ganhar.

    Por isso andam muitos a pedir que a UE como um todo comece a emitir dívida, para absorver estes choques internos. A Alemanha é que está muito renitente porque tem na sua Constituiçäo que näo pode safar outros países (até porque também tem na Constituiçäo que défices orçamentais só podem existir em casos excepcionais).

    É assim: näo tenho pena de países que vivem acima das suas possibilidades e só fazem é ostentar novo-riquismos (Olimpíadas, 10 meios estádios novos para o Euro2004, etc.) porque afinal o povo desses países vai na cantiga e vota nos populistazecos que os lixam (com F) à força toda que propöe tais elefantes brancos. Agora amanhem-se.

    Claro que os casos seguintes seräo de muito maior monta… quando é que expira a próxima trance da dívida do Reino Unido?

  2. Avatar de skape
    skape

    O texto não é meu mas achei interesante.
    25 de Abril sempre (Não digo é de que ano)!!

    MEMÓRIAS DO PORTUGAL RESPEITADO
    Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.
    O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.
    Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.
    Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: “Pague já e exija recibo”. Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.
    Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: – não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
    Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado – ao tempo Dean Rusk – teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. “Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall”; “Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam” e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
    Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por “Ordenações Felismínicas” as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: – “Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja”.
    Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.
    Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.

  3. Avatar de PapaFormigas
    PapaFormigas

    Que belo comentário. A verdade histórica tem coisas destas.
    O Orgulhosamente Sós era a sério.

  4. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    Deve ser por näo estarem à espera que que lhes paguem, que agora (com a dívida externa que têm) também näo estäo à espera de pagar a quem devem (antes pedem mais ainda).

    Quanto à atitude, se fosse tomada em democracia seria de louvar. Agora quando tinha o país amordaçado e na miséria, já com uma guerra colonial, isto näo é nada. Saiu-lhe depois o tiro pela culatra certamente, quando as despesas de guerra se começaram a acumular e teve de pedir os 3 M$ a juros de 20%.

  5. Avatar de oKikas
    oKikas

    Quando é que teve de pedir 3M$ a 20%?
    Cuidado com a verdade histórica.
    Tanto quanto eu saiba, uma das pesadas heranças eram toneladas e toneladas de ouro, mabaratado posteriormente, em esquemas duvidosos como a fraude Drexel.
    http://en.wikipedia.org/wiki/Drexel_Burnham_Lambert

  6. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    Vai lá aos registos da verdade histórica e vê qual foi o crescimento da dívida externa de 31/12/1962 a 31/03/1974 e diz-me de que valeu entäo ter esse ouro todo. O povo amordaçado näo gozou nada dele, essa é que é. E já agora podes ver nos registos da verdade histórica que a inflaçäo começou a disparar ainda antes do 1.o choque petrolífero.

    Mesmo com os disparates do Portugal do 25 de Novembro, continua a ser um dos países com maiores reservas de ouro. E? A dívida externa anda quase pelos 200% do PIB!

  7. Avatar de oKikas
    oKikas

    Agora ando de tanga!
    Mas podes falar.

    Agora a saúde é uma treta.
    Mas podes falar.

    Agora importa-se tudo aquilo que se come.
    Mas podes falar.

    De que me serve falar se sou explorado por todos os lados.
    Nem tenho meios para fazer uma revolta. Se o exército quisesse fazer outro 25 de Abril, não conseguia, por falta de meios.

    – – –
    Os ceguinhos ideológicos até vêem duas pedofilias: A dos padres, e a dos gajos de esquerda!

  8. Avatar de oKikas
    oKikas

    E já agora, durante um período que terminou sabe-se muito bem quanddo, o ouro acumulou até mais de 900 toneladas.
    E agora o que lá está são raspas!
    – – –
    Além disso durante esse perído melhorava-se a qualidade de vida, e uma pessoa podia reformar-se.

    E agora? As novas gerações não têm horizontes, e nem sequer podem emigrar para França.

  9. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    As novas geraçöes têm os horizontes cada vez mais abertos. Já o horizonte que o meu pai teve quando jovem era o da Guiné. Tu näo deves ter passado lá com os costados, por isso é melhor estares caladinho.

    Felizmente, hoje os jovens podem ir para onde quiserem sem terem de ir 2 anos de férias pagas a levar com tiros nos cornos. Dentro da UE säo 26 países além da França, e se näo chegar têm o Mundo todo. Quem está mal muda-se, tal como eu fiz.

  10. Avatar de oKikas
    oKikas

    Pronto, ganhaste. Vai lá para o Aquinãoestão defender o que não é teu… (que é o que agora andamos a fazer, até ao dia em que …)

  11. Avatar de transmutante
    transmutante

    Notícia da semana, no Finantial Times:
    Grécia e Portugal devem falir sem sair do euro.
    http://economia.publico.pt/noticia/wolfgang-munchau-diz-que-grecia-e-portugal-tem-de-falir-dentro-do-euro-1533497

    No chornal, dois anos antes:
    “Dizem-nos que vamos à falência e saímos do euro. O chornal está mais além. Sair do euro e falência não é a mesma coisa.”
    Chornal sempre à frente. Chornal dois anos à frente. O costume.

    O Expresso traz-nos agora as novidades. Do Finantial Times. As mesmas que estavam no chornal 2 anos antes. Grandes novidades. Vão-se mas é montar no caralho.

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