Assim como quando oiço nomes de figuras públicas portuguesas, não sei se estão a falar de políticos ou se estão a falar de corruptos, sempre que oiço falar do Haiti associo-o a morte arbitrária. Ficaram-me gravadas na cabeça as imagens de pessoas a passarem na rua e a levarem tiros na cabeça, durante a gestão de Jean-Bertrand Aristide. Muito mais marcante do que os conflitos na Libéria de Charles Taylor, porque o Haiti é pobre e a Libéria tem petróleo, e parece que não havia motivo para tal violência. Muito mais impressionante do que a execução sumária de Nguyen Ngoc Loan porque não havia um passado de anos de guerra no Haiti, como tinha havido no Vietname.
Talvez só tão mau como os conflitos do Ruanda em 1994 e 2004, mas nestes eu não vi filmagens de pessoas a serem mortas à frente da câmara e isso mantém os genocídios ruandeses mais diluídos na memória.
Agora o Haiti sofreu um abalo de terra e debaixo dos escombros de alvenaria e betão mal calculado, ficaram quinhentas mil pessoas, que já morreram ou vão morrer até ao fim da semana. É uma imagem tão má como a dos conflitos que levaram à saída de Aristide e à entrada da ONU. Num país onde não há nada.
Nada, não. A partir de hoje podem contar com a ajuda portuguesa. O Cavaco enviou um bolo-rei.
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