Comemoraram-se este ano os 25 anos do 25 de Abril. O que era o 25 de Abril aos olhos da época? Qual foi o conceito de liberdade que reuniu o consenso maioritário dos cidadãos? O fim da ditadura, o fim da guerra colonial, a liberdade de expressão, a redução das desigualdades e da desigualdade de oportunidades.
O 25 de Abril era o fim da ditadura. O que é que temos hoje? Uma ditadura que se estende do poder político à vida no trabalho e ao reino de qualquer pequeno tiranete de repartição. Uma ditadura na qual abundam os nomes das famílias do antigamente. Uma ditadura na qual os poderosos estão tão habituados ao direito a nos escutarem e vigiarem que começam a considerar a possibilidade de se escutarem uns aos outros.
O 25 de Abril era o fim da guerra colonial. O que é que temos hoje? Monumentos e regalias aos que fizeram a guerra colonial. Omite-se que dar o salto para fora é que era um acto revolucionário. Que dava direito a prisão e a ser considerado opositor ao regime. Que era portanto a resposta mais digna à guerra colonial. Não existe memória dessa dignidade. Não há em Portugal um único monumento aos que recusaram a guerra colonial, nem outra regalia que não seja a de ter feito uma escolha digna.
O 25 de Abril era a liberdade de expressão. O que é que temos hoje? Uma liberdade coartada pela concentração dos media em 3 ou 4 empresas. Uma liberdade coartada pelo carreirismo. uma liberdade coartada por legislação que avalia favoravelmente os funcionários convenientes. Uma liberdade coartada por legislação que obriga funcionários do estado ao silêncio, ainda que reformados.
O 25 de Abril era a redução das desigualdades. O que é que temos hoje? Desigualdades maiores do que nunca. Um salário mínimo inferior ao de 1974. O 25 de Abril era a redução da desigualdade de oportunidades, em boa parte pelo ensino, obrigação do estado. O que é que temos hoje? Escolas públicas degradadas e escolas públicas nas quais o cidadão deixou de confiar. Servem hoje para dizer aos cidadãos que a todos damos oportunidades que alguns aproveitam e outros não. Ou seja, servem para tornar a desigualdade legítima.
P.S.: Hoje temos um 25 de Abril cujas comemorações são presididas pelo cavaco. Rodeado de uma seita de malandros que nada fizeram para que o 25 de Abril acontecesse. Mais uma efemérdia.
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