conversando sobre o natal


Esta é mais uma das conversas do chornal com o Dr. Ivanoff. O chornal regozija-se com a oportunidade de ter consigo este convidado, um cientista de craveira internacional, uma referência na sua área de conhecimento. O Dr. Ivanoff é é um perito em antropologia sexual, um domínio relativamente desconhecido do público.

Chornal: Bem-vindo dr. Ivanoff. Aqui estamos mais uma vez, para mais uma das suas irregulares mas sempre bem-vindas contribuições. Vamos então falar do natal, não é?

Dr. Ivanoff: Mais ou menos. Sim, do natal.

Chornal: Então fale-nos lá do natal.

Dr. Ivanoff: Bem, existem, ou existiram, muitos natais. Hoje existe essencialmente o natal das crianças e o natal dos outros. Para as crianças, e de certo modo para os que têm crianças, o natal continua a ser genuíno, porque o natal é uma festa de crianças.

Chornal: E o natal do ponto de vista religioso? Do ponto de vista da fé?

Dr. Ivanoff: A criança, por ser criança, tem sempre uma fé.

Chornal: Estranho. Pensava que a fé era uma coisa muito séria, que exigia maturidade, não a via como coisa de crianças. Mas que fé é essa que diz que as crianças têm?

Dr. Ivanoff: Fé nos presentes. As crianças têm uma fé tremenda nos presentes.

Chornal: Ah! Isso.

Dr. Ivanoff: E acha pouco? Para uma criança, o presente é uma confirmação de que gostam dela. De que a ouvem. De que têm em conta a sua opinião. Até uma confirmação de que têm condições para cuidar dela.

Chornal: E para os adultos, não é assim também?

Dr. Ivanoff: É um bocado diferente. Ser adulto é também ser independente. Ou, pelo menos, menos dependente. De tudo. Dos bens materiais, dos afectos, das opiniões dos outros, de tudo. Um adulto é, por definição, um sistema mais estável. Um sistema que já não se alimenta da permanente confirmação dos outros.

Chornal: Mas a confirmação dos outros é sempre importante.

Dr. Ivanoff: Tem o seu lugar. Mas não pode ser muito importante. Não podemos ter muitas coisas importantes. Se tudo é importante, nada é importante.

Chornal: E você? Festeja o natal?

Dr. Ivanoff: Não. Deixei-me disso há muitos anos. Dou sempre presentes às crianças. Mas fico-me por aí. Não compro coisas para mim. Nessa altura está tudo muito caro. Aborrece-me ser roubado.

Chornal: Então não gosta mesmo da época natalícia?

Dr. Ivanoff: Pelo contrário. É uma excelente época do ano. Diria mesmo que é uma das melhores épocas do ano.

Chornal: Sim!? Porquê?

Dr. Ivanoff: O Natal é uma grande época para gajas. É vê-las andar por aí todas arranjadas e com o cio. É um espectáculo, não é como a porcaria das luzes de natal. Isso é que verdadeiramente faz a época mais bonita.

Chornal: Nunca tinha pensado nisso dessa forma. A que atribui isso?

Dr. Ivanoff: Antigamente pensava que era o optimismo da época, mais dinheiro nos bolsos, as mulheres sempre gostaram de compras. Depois, percebi que não. Que era mesmo assim.

Chornal: Mesmo assim, como?

Dr. Ivanoff: Sempre se fizeram festas nesta época, mesmo antes de haver natal. É meu dever como antropólogo sexual elucidá-lo disso.

Chornal: E acha que essas festas têm alguma coisa a ver com esta festa?

Dr. Ivanoff: Para mim têm. Quando descobri isso, há muitos anos, passei a entender melhor os comportamentos da fêmea nesta época. Foi uma grande descoberta. Muito útil.

Chornal: Útil?

Dr. Ivanoff: Sim. Este é um período realmente natalício, no sentido de propício a nascimentos. Ou ao que está antes deles.

Chornal: Antes deles como?

Dr. Ivanoff: Percebi que esta é uma das alturas do ano em que a fêmea está mais receptiva. É uma sazonalidade, como muitas outras. Desde então que nesta época quase todos os anos arranjo um par de gajas que me abocanhem o chouriço. É muito bom. Com duas é muito melhor. Noutra altura do ano isso é muito mais difícil de conseguir.

Chornal: Ao mesmo tempo?

Dr. Ivanoff: Sim, sim. Ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo é que é.

Chornal: E assim quase que voltámos ao tema da poligamia, o nosso tema de sempre.

Dr. Ivanoff: É verdade, o mundo dá voltas e voltamos sempre ao mesmo, à sua vibração fundamental.

Chornal: Então voltamos em breve para falar de poligamia.

Dr. Ivanoff: Pode ser.

Chornal: Bom Natal para si, Dr. Ou, talvez seja melhor dizer, bom whatever.

Dr. Ivanoff: Pode ser. Para si também.


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