sócrates demite-se

Uma coisa é o presidente ser escutado. Outra é essas escutas serem ilegais. Outra ainda é essas escutas serem feitas pelo primeiro-ministro.

Estranhamente, durante a campanha ninguém colocou a hipótese de o presidente estar a ser objecto de escuta sim, mas por outrém que não fosse o primeiro-ministro. Talvez uma escuta legal determinada por um tribunal no âmbito de um processo de investigação qualquer. Talvez uma escuta ilegal de uma organização criminosa ou de uma al-qaeda qualquer. Talvez até uma escuta de uma organização ou país amigo com uma curiosidade exacerbada. Estas eram possibilidades razoáveis, pelo menos tão razoáveis como a de ser o primeiro-ministro, algum dos seus subordinados, ou alguém do seu círculo próximo.

Porque é que estas hipóteses não foram também aventadas? Porque o presidente é insensato? Ou porque já tem certezas? Se já as tem o país está metido num sarilho. Se tem certezas, teremos um primeiro-ministro culpado das escutas e que entretanto foi eleito, beneficiando de toda a legitimidade do acto eleitoral. Um dilema. Que não se resolve com a demissão do presidente.

Sócrates é um problema. Não perde as eleições. Ninguém o assassina. Não é fácil ao presidente invocar agora a legitimidade para o demitir. Ainda por cima demitir de um cargo que ainda não ocupa. Encaremos os factos: não é possível ou razoável demitir Sócrates. Então se ele for culpado das escutas só resta uma solução: sócrates demite-se, ele próprio, de secretário-geral do PS. É a concretização de uma velha profecia: “Só me demito se for eleito…”

P.S.: Cavaco vai falar. Daqui por duas horas. Pode ser que seja isto o que vai acontecer. Pode não ser. Até pode nem dizer nada que se perceba. No verão interropeu as férias para dizer qualquer coisa ao país. Parecia que ia ser sobre uma coisa muito importante. Não me lembro do que era. Acho que ninguém se lembra. Tenho uma vaga ideia de que era para termos cuidado com o sol.