reinventar o voto

Vêm aí os votos. Ai as pessoas abstêm-se. Ai os votos não reflectem a vontade dos cidadãos. Ai as eleições custam muito dinheiro. Ai o caralho. Está na altura de mudar a maneira como se vota. Os tecnoparvos estão fascinados com o voto electrónico. E é só isso que vêem. Mas são incapazes de imaginar as oportunidades que decorrem do voto electrónico. E mais incapazes ainda de imaginar as outras oportunidades que nem necessitam de tecnologia. É pois tempo de reinventar o voto.

Apresentam-se em seguida 10 medidas que pretendem diminuir a abstenção, simplificar o processo eleitoral, reduzir custos e contribuir para que os votos reflictam melhor a vontade popular.

Voto permanente – Todos conhecemos pessoas que toda a vida votaram sempre no mesmo partido, no PCP por exemplo. Mais de metade da população votou sempre no mesmo partido. E, no entanto, obrigam-nos a ir votar. Para quê? Para chatear. Para fomentar a abstenção. O cidadão que é comunista dos 4 costados tem que ir lá ao buraco do voto 20 vezes no espaço de 20 anos. Para quê? O cidadão deve ter o direito de usar um voto permanente. Ou seja, determina que o seu voto seja sempre naquele partido até ordem em contrário. Isto sim, é uma medida que combate a abstenção.

Voto na hora – Temos tudo na hora. Empresa na hora. Divórcio na hora. Punheta na hora. Mas quando queremos votar tem que ser quando eles querem. Porque carga de água é que temos que esperar até ao fim da campanha eleitoral para votar? Porque carga de água se já sabemos o sentido do nosso voto? O voto também tem direito de ser na hora. Num horário, local e por meios convenientes para o eleitor. Isso sim, é uma medida que combate a abstenção.

Antivoto – “Para mim pode ganhar qualquer um, desde que não seja o Sócrates”. O nosso sistema não tem forma de corresponder à vontade expressa na frase acima. Como resolver isto? Temos uma solução. O cidadão pode depositar um antivoto. Uma unidade de conta negativa que reduz em 1 voto a contagem de votos do candidato visado. Faz sentido? Faz. Imagine-se que se escolhe um líder para um grupo de 20 pessoas. Queremos o mais votado? Não, se ele tiver 11 votos e uma hostilidade desmesurada dos outros 9. Nesse caso escolher o mais votado é um disparate. Todos os grupos sensatos sabem que têm que optar por outra solução se querem que o grupo sobreviva como tal. O antivoto é a opção natural para evitar que indivíduos mal-queridos por uma grande parte da população tomem o poder. É um mecanismo que protege contra uma bipolarização conflitual e destrutiva.

Voto familiar – Muitas famílias votam de forma homogénea, todos no mesmo partido. O pai decide em quem todos votam. Todas as mulheres e filhos devem votar em quem o pai manda. O pai é que sabe, é assim que se diz cá em casa. O voto familiar é o reconhecimento de um fenómeno existente. É o reconhecimento da família como unidade de decisão. O voto familiar promove a discussão no seio da família e a harmonia familiar. Naturalmente, o voto familiar pode ser um voto permanente. O voto familiar combate a abstenção, reduz custos e promove o sentido de família face ao individualismo exacerbado das sociedades ditas modernas.

Voto condicional – É o voto, normalmente permanente, que é anulado assim que se verifique um evento. É o voto que automaticamente responde à quebra de uma promessa eleitoral com a anulação da confiança depositada.

Voto directo – O cidadão quer votar no PS mas não quer o Sócrates, nem à lei da bala. Quer votar no PSD mas não quer a Manuela nem à lei da bala. Não tem forma de dizer que quer outra pessoa do mesmo partido. Os partidos são totalmente estanques à vontade popular. Os dirigentes dos partidos chegam a essa posição com votos comprados e com votações inverosímeis. Essa é a maior fonte de opacidade da nossa democracia. O cidadão que detém um voto condicional pode determinar que aquele partido só terá o seu voto caso o candidato que o partido apresente às eleições seja o seu favorito.

Voto parcial – Nenhum partido é feito à nossa medida. Nem nós somos feitos à exacta medida de nenhum partido. Revemo-nos parcialmente num partido e parcialmente noutros. Mas quando chega o momento de votar querem que atribuamos o nosso voto por inteiro. Errado. O eleitor deve poder distribuir os 100% do seu voto em percentagens de 25%, 50% ou 100% pelos partidos que achar por bem. O voto a 100% num partido é uma espécie de casamento monogâmico. Queremos o direito a ter várias mulheres, amantes, flirts e amigas que se esfregam na gente. Queremos tudo aquilo a que temos direito, como dizem no Dirty Harry. O voto parcial combate o extremismo, promove a moderação, a compreensão e a tolerância.

Voto negativo – Os votos negativos também podem ser expressos em percentagens de -25%, -50% e -100%. Se reflectirem o sentimento do povo, assim seja.

Voto misto positivo-negativo – O eleitor tem actualmente 100% de um voto para utilizar. No futuro deverá dispor de 100% que pode aplicar em percentagens de 25%, 50% ou 100% nas formas de voto ou antivoto. O cidadão pode votar 50% no PCP, -25% no PS e 25% no BE, por exemplo. A função do voto é reflectir a vontade do cidadão e promover a constituição de um governo. O voto misto positivo-negativo tem o mérito de reflectir melhor a vontade do cidadão.

Voto colectivo – É o voto dos camionistas. É o voto dos professores. É o voto cristão. É o voto dos paneleiros. É o voto dos pescadores. Um grupo profissional ou outro decide votar de forma homogénea para defender os interesses ou a visão que comunga. O cidadão indexa o seu voto ao desse grupo. É a resposta do cidadão à volatilidade das promessas dos partidos. Pode ser um voto condicional ou um voto permanente.

P.S.: E todos os votos transaccionados em Bolsa de Votos. Esta é a visão futurista do Chornal. Para que o voto corresponda à vontade popular. Para que do voto saiam governos nos quais os eleitores se revejam. Para que os governantes sejam gente de quem gostemos minimamente.

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Comentários

3 comentários a “reinventar o voto”

  1. Avatar de alex

    Só o título do bost é que está mais fraco. “Reinventar” é uma palavra usada pelos inconsequentes, pelos extremistas e revolucionários.

    O que nós pretendemos mesmo é uma evolução do voto, da forma como se vota. Uma evolução natural que acompanhe a evolução das ideias e da tecnologia.

    O voto remoto, o voto parcial, o voto permanente, o voto aleatório e o voto arbitrário. Tudo isto se enquadra no estado actual das ideias que habitam as sociedades industrializadas e informatizadas do presente.

    Temos que ter um sistema eleitoral condizente com este estado de coisas e ideias. Temos que poder votar na praia – via telemóvel – ou a partir de um terminal multibanco numa loja. Neste momento tecnológico e ideológico, não há motivos para que assim não seja.

    O voto transaccionável é uma premência das democracias actuais.

  2. Avatar de generalcuster
    generalcuster

    Não deixaste de fazer um bom retrato do transmutante: revolucionário, extremista e inconsequente. Aposto que o gajo ficou orgulhoso.
    🙂

  3. Avatar de capitaodemocracia
    capitaodemocracia

    Aqui está um contributo notável para a evolução do regime democrático. Continuem, estão no bom caminho.

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